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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

QUESTÃO DE GRAMÁTICA

Teimosia - revista
 paradoxo.com
Tenho-me batido muito contra o falar errado dos paulistanos e isto tem acarretado algumas divergências entre mim e minha mulher. Por exemplo: tenho teimado em que é errado a pronúncia éxtra que os paulistanos empregam sistematicamente e espalham pelo Brasil a fora. Mas minha digna consorte teima em avalizar aquela pronúncia. Tenho pugnado para ensinar meus filhos a não dizer a besteira "a Presidente", mas minha mulher teima em dizer que está correto. Tenho pugnado para corrigir também o emprego do arcaico e desusado particípio passado "pêgo; pêga", mas tenho sempre contado com a oposição sistemática de minha "cara metade." Por que sou tão teimoso com os erros cometidos pelos paulistanos na Gramática brasileira? Porque: a) Estudei o Latim e a derivação das palavras daquela língua para o português, coisa que já não mais se faz nas escolas de hoje. Apenas se coloca os alunos a decorar centenas de cansativas e, atualmente, contraditórias regras nascidas a partir do momento em que o vínculo com a língua-mãe se perdeu; b) Trabalhei como único selecionador de pessoal da EMBRATEL, encarregado de elaborar as provas para os níveis primário, ginasial e secundário em português e matemática (fiz cerca de mil e duzentas provas de português para a seleção de pessoal da empresa). Tinha, sobre minha mesa de trabalho, de novembro de 1968 a fevereiro de 1971, onze gramáticas dos mais renomados filólogos brasileiros e fazia seleção de pessoal pelo Brasil todo. Só para São Paulo eu era obrigado e entortar a gramática porque se não o fizesse não conseguiria aprovar nenhum candidato. A ordem que recebia dos militares que presidiam a EMBRATEL era: "São Paulo é um caso à parte. O português de lá não é o gramatical, portanto, estude o dialeto paulista para poder selecionar pessoal naquele estado". E era verdade. De todos os estados brasileiros, o que mais fala e sempre falou errado nosso idioma é São Paulo. Infelizmente, para o Brasil, a maioria esmagadora das Editoras brasileiras estão em São Paulo. Assim, na medida em que o zé povão iletrado invade aquela cidade e a sufoca com seu linguajar paupérrimo, invadindo empresas, escolas, serviço público etc..., as gramáticas vão sendo prostituídas. Erros grosseiros são inseridos até nas gramáticas cujos ciosos autores já morreram - como é o caso de Napoleão Mendes de Almeida, cuja gramática editada em 2006, após sua morte, já trazia como verdadeiro o tal particípio passado "pêgo", "pêga". Napoleão nunca abonou esta forma e dizia, em nota, que eram formas arcaicas, já desusadas. Mas o paulistano não somente a ressuscitou como está criando novas formas de particípio passado, como ouvi, ano passado, numa entrevista realizada na rua por uma repórter da Globo. Ali, um transeunte, falando de um assalto ao ônibos onde se encontrava, disse: "Eu estava sento perto da porta e não vi o assaltante..." Levei quase um minuto para compreender que o tal "sento" era o novo particípio passado de sentar, no linguajar paupérrimo do paulistano.

Eu não sou filólogo. Sou Psicólogo. Mas estudei muito bem nosso idioma e aprendi a amá-lo, ao contrário do que acontece com os estudantes de hoje que não se envergonham de dizer, através da televisão, que "português é um porre; é chato". Sim, nosso idioma está chato porque já não mais se estuda sua derivação a partir do latim. Ao contrário, com a desculpa de que uma língua é uma entidade vida e, por isto, está em constante mudança, filólogos modernos se esforçam por não somente colocar na gramática erros crassos como algo certo "porque é assim que é falado atualmente", como também se esfalfam para encontrar aguma explicação para isto. Eu discordo frontalmente com este modo de encarar nosso idioma. Sim, toda língua viva é mutável, mas nem por isto podemos jogar fora a gramática e sair encampando qualquer erro como "nascido no linguajar popular". A continuar assim, logo estaremos sendo um país igual à África, onde predomina uma quantidade assombrosa de dialetos. A moda, agora, também é fazer desaparecer os "chatos" pronomes oblíquos. Assim, verbos que os requerem ficam castrados, como é o caso de preocupar. Diz-se, atualmente: "Eu preocupei com você", construção que, gramaticalmente, não quer dizer nada. O correto seria dizer "Eu ME preocupei com você". E vai por aí a fora. Os possessivos seu, sua, dele, dela também tomaram chá de sumiço no linguajar paulistano e isso os leva a cometer cada cacófato de arrepiar os cabelos na cabeça de um careca. Coisa como já citei no exemplo da fala de uma repórter da Globo, fazendo referência à árvore genealógica da Dilma. A talzinha disse: "A árvore genealógica dela" (para quem se acostumou com os cacófatos paulistanenses, o mau som está em CA DELA).

Minha cara metade tomou a gramática de Evanildo Bechara para justificar sua defesa, junto à minha filha, do emprego do vocábulo Presidente como se fosse um comum de dois. Fui olhar a gramática, estranhando que o filólogo que compõe a frente dos grandes gramáticos de nossa língua tivesse encampado este modo errado de encarar tal vocábulo. Lá, na página 84, estavam os substantivos:
        - governante - governanta;
        - presidente - presidenta;
        - parente - parenta;
Diante destes três substantivos há uma chave e uma observação: "também aparece invariável". Esta chave indica somente uma observação do filólogo, não significando que esteja abonando a forma vulgar do falar paulistano. A Gramática é de 1988, 32ª Edição, o que nos indica que já naqueles idos os gramáticos notavam que a forma errada de se falar português era merecedora de uma observação. Napoleão Mendes de Almeida, em uma das edições de sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, não sei se daquele ano ou de 1978, em nota de rodapé e com relação ao particípio passado de "pegar", faz notar que já aparece, em São Paulo, a forma arcaica "pêgo", "pêga", mas ironiza: "Pêgo seria marido da pêga, se entre pássaros houvesse casamento". Achei tão interessante esta nota que passei a me servir dela. Ao fazer a nota de rodaper ele não estava abonando aquele arcaísmo, não.

O modo subjuntivo presente dos verbos brasileiros também está desaparecendo. Não se diz mais, por exemplo: "O senhor quer que EU FAÇA o trabalho?" Ou: "O senhor quer que EU PEGUE o livro?" Ao contrário, diz-se: "O senhor quer que EU FAÇO o trabalho?" Ou, então: "O senhor quer que EU PEGO o livro?" É uma concordância errada de tempo verbal. Estou esperando para ver quando este erro será inserido na Gramática brasileira com uma explicação mambembe qualquer.

A situação da língua brasileira é tão caótica que os políticos fizeram o favor de empobrecê-la mais ainda, aprovando uma lei idiota que nos iguala ao falar de ilhotas perdidas no oceano, algures na Terra. Devia ser o contrário: eles teriam de falar e escrever como nós o fazemos. Mas o que fazer? Somos brasileiros e desde que haja canaval, samba e motel a gente aceita tudo, né mesmo?

4 comentários:

  1. Acabo de receber um correio eletrônico. Um professor de português, chamado Jorge Maldonado, afirma que o termo ´´presidenta´´ é um vocábulo inventado pelos petistas, paulistas. Ups!!! Segundo o correio, e eu não tenho como averiguar se o professor defende mesmo esta opinião, palavras como presidente, paciente, adolescente são derivações verbais de particípios ativos e, portanto,são comum de dois gêneros. E agora? será que acontecerá com ´´presidente/presidenta´´ a mesma coisa que aconteceu com cólera, em que se admitem o e a para designá-la?

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  2. Amiga, somente esse professor está certo. Bechara, Rocha Lima, Napoleão Mendes de Almeida e todos os bons dicionários da língua portuguesa estão totalmente errados. Que coisa, hein?

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  3. Só a título de informação. No latim clássico, a designação "prae sidere" era usada para designar aquele que presidia uma reunião. No latim vulgar passou a praesidere, depois a presidere, depois a presidete, daí para presidente e no português arcaico, surgiu o feminino presidenta. Foi adotado no português e aqui permaneceu até agora. Por isto é que é admitido o feminino presidenta como vernacular.

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  4. PS: Não entendo a hora que sai nos comentários que coloco. Agora, são 10:07h e na postagem sai como 4 horas da manhã. Que coisa!

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