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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

PARÓDIA

O grande Camões, imbatível poeta lusitano, espadachim, aventureiro e namorador, escreveu muitos poemas imortais. É certo que sua vida é um tanto desconcertante, pois não há muitos registros sobre ele e sua história. Mas que existiu, existiu. Outros poetas como Couto Monteiro e Olavo Bilac fizeram paródias com os versos do Mestre Lusitano. Não resisti a também aproveitar um poema conhecidíssimo de Camões e deixar aqui um mote para um coroné de boa cepa no Centro-Oeste brasileiro, chamando a atenção para o fato de que qualquer coincidência, não é mera. Aí vai:

CHORO DE UM "PÉ FEITO" 

Estado meu gentil, que te partiste
Das minhas mãos tão cedo descontente,
Por ingratidão do goiano inclemente,
Viva eu, agora, codilhado e triste.

Se no novo Governo a que aderiste,
A memória do asfalto se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que pelos cobres teus em mim já viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa o azar que me danou,
De perder meu negócio, com perder-te;

Roga ao Goiás que as asas me cortou,
Que tão cedo a vidinha me concerte
Quão cedo os planos meus desconcertou.

Orisval Brito (1940 - ...)

Codilhado = logrado, burlado, frustrado.

Couto Monteiro, conimbricense, foi autor de Cabulogia, folheto que é hoje raridade bibliográfica (Nota retirada da pg. 288, do livro de Idel Becker: Humor e Humorismo, paródias). Abaixo, a sua paródia:

CÁBULA

Cábula minha, por que assim partiste
tão cedo do meu curso descontente?
Não vás ficar por lá eternamente,
nem fique eu cá nas aulas sempre triste.

Se lá nesse lugar aonde fugiste
memória dum trocista se consente,
não te esqueças daquela troça ingente,
que já no quarto meu tão grande ouviste.

E se vires que pode merecer-te
algum feriado, a dor que me ficou
da mágoa d'eu julgar nunca mais ver-te,

roga a quem sem piedade te expulsou,
que tão cedo p'ra cá torne a trazer-te,
quão cedo do meu curso te levou.

E eis o poema imortal de Camões:

ALMA MINHA

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida, descontente,
repousa lá no céu, eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente,
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.

Alguns mais entrado em anos hão de gostar de ver este poema aqui e se lembrarão das aulas de análise sintática, onde era comum os professores mandarem analisar versos retirados deste poema.

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