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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

QUE DIGO EU QUE VOS INTERESSA, Ó LEITOR?

Ué! Será que voltei ao passado???
Quando dei início a este blog não esperava ter tantos leitores, muitos assíduos frequentadores desta página. Até porque ouvi palavras de desencorajamento de pessoas próximas a mim. O que será que digo que desperta em vós, leitores meus, tanto interesse? Sois quase vinte mil e isto me espanta. No entanto, por que vos mantendes em silêncio? Poucos dentre vós manifestam alguma opinião a respeito do que lêem aqui. Por que?

Tenho um modo bem característico de me expressar, de dizer o que penso e o em que acredito. Às vezes, segundo amigos mais próximos, sou temerário em expor minhas opiniões. No entanto, se se repara bem, só o faço com base no que é amplamente noticiado por todos os meios de comunicação. E busco aqueles veículos da comunicação que são tidos como confiáveis. Minha opinião é formada segundo os formadores de opinião. Aliás, como as vossas também o são.

Sou, creio eu,  um homem que pode confundir porque, se defendo de um lado a Religião -  e esta enfileira normas de conduta que são difíceis de serem emitidas em uma sociedade falsa e mentirosa como a em que todos vivemos - por outro me coloco numa posição de Juiz e julgo, emito a sentença e a exaro em juízos de valor que, quase sempre, são radicais, extremados. Mas posso-vos explicar este comportamento excêntrico. É que não escrevo visando moldar-vos a opinião sobre o que quer que seja, daí o ter afirmado que não escrevo buscando audiência. Escrevo objetivando tão-só extravasar ora meu enlevo, ora minha revolta com o que acontece e é noticiado. Claro está que bem sei o quanto a notícia veiculada é moldada segundo a filosofia de consumo do veículo através do qual nos chega ao conhecimento. É, portanto, moldada ao que o veiculador deseja que o leitor capture subliminarmente. Nada se faz, nesta Sociedade de mentirosos, com base na Verdade. Tudo é adaptado aos interesses, quer de uma pessoa, quer de um grupo de pessoas.

Entretanto, em que pese a descaracterização da Verdade para que surjam verdades parciais, penso que, tal qual eu, vós também vos reservais o direito de pensardes segundo vossas próprias convicções. Podeis até falar num mesmo jargão, mas tal comportamento é igual ao do graveto que é levado pelo caudal incontrolável do rio. Aquilo de que é feito o graveto (vossas crenças, vossos hábitos, vossas convicções pessoais, vossas tradições culturais enfim) não muda em função da violência das águas que o conduzem a um destino desconhecido para ele. O graveto continua sendo de madeira, pois esta é sua Natureza mesma; e o rio continua sempre sendo água, porque ser de água é sua Natureza intrínseca. O graveto é tendenciosamente rígido e imutável em sua forma. Já a água do rio é tendenciosamente flexível, fluídica e adaptável.

Os comunicadores buscam por todos os meios tornar vossas convicções tão mutáveis quão mutáveis são as notícias que veiculam. Vede vós, por exemplo, a Míriam Leitão. Analista financeira da Globo, ela em um dia nos mostra que a Economia brasileira vai de mal a pior e no dia seguinte muda radicalmente seu discurso e demonstra, por A+B, que a tal Economia está de vento em popa. Em uma semana ela noticia que o desemprego no Brasil atingiu patamares alarmantes; mas na semana seguinte afirma que o emprego está em nível superior àquele dos países de primeiro mundo. Tudo vai de como a analista aborda o mesmo assunto, pois qualquer que seja o tema de um assunto, ele é passível de ser enfocado por vários ângulos de visão. A razão pela qual a analista muda sua óptica é algo que pertence ao jogo de interesses restritos a determinado grupo de pessoas. A estas, interessa, em tal ou qual momento, que a opinião pública seja moldada segundo seus objetivos jamais expostos ao público. A este último, no qual vós estais incluídos assim como também eu, interessa ler ou ouvir a notícia e dela extrair o que é do agrado de nosso íntimo, daí que não temos como escapar ao mecanismo da Catatimia o qual, segundo ensina a Psicanálise, nos leva a adaptar a realidade percebida àquela que nos é íntima e à qual tendemos a nos apegar por motivo de segurança psicafetiva.

Sois humanos, como também eu o sou. Sois, pois, inseguros diante de um mundo onde vedes o perigo vos ameaçar por todos os lados e diante do qual vos sentis impotentes. Não bastasse o perigo das catástrofes naturais, eis que nos tornamos vetores que incrementam este perigo contra o qual não temos defesas. E acrescentamos a isto os perigos que a Sociedade, fruto de nosso modo de viver e de nossa compulsão avoenga para a vida gregária, comunitária, nos cria na interação de desejos conflitantes e nos descaminhos da política que nos rege. Tudo isto, toda esta periclitância que avolumamos sobre nós como uma temível espada de Dámocles, não passa de frutos amargos que nascem de nosso medo da Vida e do Ambiente em que vivemos. E acrescento a este medo, aquele que temos de nosso próprio semelhante. Como bem o disse Thomas Robbes, "O homem é o lobo do homem". Mas eu vos pergunto: somos isto porque ser o lobo de nós mesmos é de nossa Natureza, ou somos isto em função da Sociedade que criamos e à qual nos escravizamos? Convosco a resposta. De meu modo de ver e compreender a Sociedade Humana, ela é imperfeita o que a faz perigosa. E como somos frutos desta mesma Sociedade doentia e violenta, somos, então, um lobo fabricado pelo meio em que nos inserimos. Ou não?
Com certeza estais neste momento perplexos com o estilo de escrita que adotei, não é? Deveis estar pensando que eu regredi aos tempos camonianos ou à época dos gongóricos. Não, nada disto, posso asseverar-vos. Não empreguei os artifícios da Estilística nem da Semântica clássicas. Se o tivesse feito este texto teria ficado pesado e de difícil leitura e compreensão. Continuei com meu estilo comum, vulgar mesmo, mas fluente e de fácil compreensão porque numa escrita atual. Se escolhi a segunda pessoa do plural para me dirigir a vós que me ledes é porque quis lembrar-vos desta pessoa verbal que muito embeleza um texto, mas da qual nos estamos esquecendo de modo lamentável. Uma pessoa verbal que nos mantém atualizado com as flexões do verbo para concordar com a pessoa que fala ou com quem se fala. Vede, atualmente a babel no léxico português no Brasil é de boquiabrir a qualquer um. Mistura-se "tu" (segunda pessoa) com "você" (terceira pessoa) e a concordância do verbo vai para as cucuias. A mensagem, então, nem se fala. Gramaticalmente não existe. Faz-se um malabarismo mental para se compreender o que se ouve. Tomai, por exemplo, esta frase: "Eu TE amo, mas VOCÊ não me dá chance". Estas duas orações não se referem à mesma pessoa, ou seja, àquela com quem se fala. Elas são distintas. Uma, a primeira, dirige-se a alguém que nos é íntimo, portanto, tratamo-lo por "tu". A segunda dirige-se a alguém com quem temos certa reserva social e, assim, tratamo-la por "você". No entanto, como podeis ver, é fácil de se compreender um texto que foi escrito todo ele na segunda pessoa do plural. O conteúdo não se tornou complexo nem de difícil assimilação, embora o verbo vos pareça "empolado" porque flexionou-se para concordar com uma pessoa que está praticamente eliminada do vocabulário brasileiro. Então, para avivar vossa memória, escrevi usando flexões verbais com as quais não mais estais acostumados.

Proponho-vos um exercício que era muito comum na escola, quando eu cursava o antigo "colegial". Tome este discurso (este texto, se quiser assim) e o reescreva empregando a segunda pessoa do singular. Depois, reescreva-o usando, agora, a terceira pessoa do singular. é um bom exercício, mormente para os que só escrevem no "tuitês".
Bom trabalho.

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