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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

GENTILEZA NO RELACIONAMENTO É FUNDAMENTAL

Ternura é volátil como o gás, mas pode ser mantida pela
gentileza, pelo elogio e pelo incentivo entre os membros
do casal.
"Muito obrigado(a), meu amor, por você ter feito isto para nós". Ou então: "Oh, que bom que você se lembrou! Ficou ótimo!" Frases como esta indicam um relacionamento de gentileza. Gentileza é uma palavra que os casais esquecem quando passam a viver juntos. Por que? Certamente não é devido à carga psicafetiva que os dois colocam nos ombros ao aceitarem dividir a mesma cama e o mesmo teto.
"Puxa vida! Ficou ótimo! Meus parabéns. Você me surpreendeu". Esta é uma frase de elogio. Elogiar é outra palavra que os casais esquecem depois que assumem vida em comum.
"Caramba, meu bem. Você realmente domina muito bem o que faz! Eu nem sei como agiria, se estivesse em seu lugar". Esta é uma frase de incentivo; de reconhecimento do merecimento e da capacidade do outro. Este é mais um hábito que os pares de um casal também esquecem quando se juntam.

Quando o diálogo já passou para o grito já é tempo de
repensar a relação.
Gentileza, Elogio e Reconhecimento são três pilares que podem fazer a vida em comum muito agradável e muito leve para os casais. Mas estes pilares afundam nas areias da mágoa, da indiferença, da cobrança e da disputa mútua para ver quem pode mais, quem manda mais, quem domina mais, quem controla mais.

Nas décadas de 60/70/80 o Brasil mergulhou num regime de retificação política. Militares passaram a dominar e a gerir as grandes empresas, como a PETROBRÁS, A VALE DO RIO DOCE, A EMBRATEL, O BANCO DO BRASIL, A CAIXA ECONÔMICA e outras mais. Nestas empresas passou a viger o lema militar: "se fez certo, não cumpriu mais que sua obrigação". Os Manuais de Pessoal, onde estava contido tudo o que dissesse respeito ao comportamento legal e aquele ditado pelas diretrizes baixadas pela Diretoria da Empresa, não continham quase nada a respeito de elogio. Mas tinha, ao menos na PETROBRÁS e na EMBRATEL, umas cinco Normas definindo as punições a serem aplicadas aos empregados. E só aos considerados nível médio, pois estes eram subalternos. Militarismo puro. Punir com rigor o erro e não elogiar o acerto, pois este é a obrigação da pessoa, é - ou foi - o pensamento militar no Brasil, ao menos naquelas décadas.
Não posso dizer que o comportamento relaxado com os três pilares do bom relacionamento do casal seja ranço daqueles tempos, pois o brasileiro não tem boa memória de sua História e a que lhes contam é propositadamente deturpada para se adequar aos interesses políticos ou Econômicos de grupos dominantes. É espantoso como a História do Brasil é mudada radicalmente de uma geração para outra, graças ao brutal jogo político que impera em nosso país. Faz-me lembrar a ingerência criminosa da Igreja Católica na História do Cristo. Mas esta ingerência levou séculos para se consolidar, enquanto, entre nós, brasileiros, isto acontece antes mesmo que a nova geração esteja pronta para ao menos ter chance de questionar o que lhe dizem.

Ele e seus antecessores são vetores de
falsificação de nossa História.
A tendência a se esquecer das boas maneiras não vem de décadas, entre nós, não. É secular e talvez tenha raiz nos sombrios meandros da politicagem real portuguesa que redundou no nascimento do Brasil. De lá para cá a família foi-se desagregando no rastro do desfazimento do senso de Moral e de Ética e o respeito entre seus membros se deteriorou a tal ponto que, hoje, um pirralho de dez anos afronta seus pais, seus tios, seus irmãos e qualquer adulto com palavrões cujos sentidos sabem muito bem quais são, quando os pronunciam raivosos. Então, não é de se estranhar que depois do famoso "sim" cheio de enlevo e cercado pela pantomima da ratificação da união perante convidados e parentes dos envolvidos na história, logo eles coloquem as luvas de boxe e se preparem para a "porrada" certa.

Criança que não foi educada na família não amadurece jamais. Seu Egoísmo infantil persiste pelo resto da vida. Mandar, Disputar, Concorrer, Birrar, Vingar-se, Tiranizar, Cobrar, Exigir, Dominar tudo isto faz parte do Ego infantilizado dos "adultos" pós-modernos. E a filosofia neoliberal, onde a ordem é corra na frente e seja o melhor; agarre a oportunidade com unhas e dentes estimula e gratifica este estado lamentável e doentio da Identidade "adulta" de hoje.

"Quem manda nesta merda sou eu!!!" Quando a relação chega
a este ponto é melhor o casal "abrir".
A tendência impulsiva ao mando, à disputa, à concorrência, à teimosia, à tirania, à cobrança, à dominação etc... constitui o que eu chamo de "Vínculos" na Estrutura da Identidade da Pessoa. Estes vínculos caracterizam o modo como uma pessoa interatua com seu próximo. Quem tem tendência a ser regido pelo vínculo de Tirania, por exemplo, não sabe pedir por favor, não sabe elogiar, não sabe agradecer, não sabe ser gentil. Mas sabe ser ferino, sabe ser malicioso, sabe ser maldoso e sabe ser explorador do  outro em benefício próprio. O tirânico não ama senão a si mesmo e não enxerga nada que não sejam as suas próprias prioridades. E quando faz algum "sacrifício" por alguém vai passar o resto da vida alegando aquilo que fez sempre que puder, a fim de quebrantar a liberdade e o ânimo de quem teve o azar de lhe receber o "sacrifício". O tirânico não sabe dar com desprendimento e quem é assim está fadado ao fracasso no matrimônio. É extremamente ardiloso e nunca está desprevenido. Vive a vida manipulando a situação e os outros para obter lucro em alguma coisa, para safar-se de algum apuro ou para levar vantagem sobre o outro, mas quando questionado sempre alega que "é inocente" e jamais fez alguma coisa de caso pensado. Assim como o Tirânico, o que tem sua Identidade aprisionada no Vínculo do Mando é bruto, grosseiro, briguento, agressivo-destrutivo. Age desbragadamente e busca intimidar através da ameaça e da grosseria nas palavras e no comportamento. Geralmente é tendenciosamente coprolálico (isto é, fala baseado em palavras de baixo calão. "Porra", puta-que-pariu", "foda", "caralho" são suas pontuações fraseológicas). Geralmente se vê esta vinculação nos casais em que o  macho bate na sua fêmea por qualquer coisa. A alegação mais freqüente é que assim faz por estar tomado de ciúme. E é verdade. Sendo uma Identidade Pessoal infantilizada, esta manifestação emocional primitiva do Desejo nele é fortíssima e incontrolável. É o tipo que mata por amor. Mas não dá para discorrer sobre os Vínculos que dão o colorido às Identidades das Pessoas, portanto, vou prosseguir com o tema deste artigo.

A raiva nesta face diz bem da animalidade que
guardamos em nossoa Identidade Individual.
Imagine uma criança de cinco anos, mas com o intelecto de alguém de 40 anos bem instruído. Pois bem, é assim que está estruturada a Identidade Individual das pessoas de hoje. Faço diferença entre Identidade Individual e Identidade Pessoal. A primeira é aquela que, mal comparando, se chama de "inconsciente" na Psicanálise. É composta tanto das aprendizagens reguladoras (educacionais familiares e educacionais sociais) dos impulsos primitivos naturais (a "censura" psicanalítica), quanto pelo que chamo de Herança Transpessoal, a que trazemos de existências anteriores e que os religiosos que defendem a tese da transmigração das almas chamam de "Karma". A segunda é aquela moldada no aqui-e-agora da realidade social em que se nasce: os modismos, as crenças fugazes, os anseios e os desejos estimulados pela sociedade, bem como a herança genética da pessoa. Enfim, é a Identidade moldada segundo a frivolidade do Consumismo. A Idolatria do Corpo, tipicamente infantil, faz parte intrínseca desta Identidade. A pessoa vive pelo e para seu Elemental Físico (seu corpo) e se deixa guiar sem qualquer freio pelo seu Elemental de Desejos (suas emoções impulsivas, primitivas). Nesta humanidade do início do Século XXI o que se vê são Identidades Pessoais totalmente sem freio, perdidas desde a infância mesmo. Os pais se deixam ser dirigidos pelo Mercado e transformam filhos e filhas em adultos em miniatura. As meninas, já aos cinco anos de idade, maquiam-se e se penteiam e se vestem como adultas. Aprendem, diante da TV, meneios sensuais de seus corpinhos e são achadas "uma gracinha" pelos tolos e irresponsáveis que deviam educá-las para a fase Adulta. Com este procedimento, retiram da criança seu direito à infância plena, inocente, pura, onde o que vale é descobrir por si mesma seu corpo em crescimento. Ressalve-se, por necessário, que não me refiro aqui à descoberta do prazer coital, masturbatório, não. Refiro-me à descoberta de seus limites, do prazer de interagir com o ambiente, de enfrentar desafios próprios da idade. Pular corda, subir numa árvore, balançar-se em  balanços nos parques, disputar corrida de saco, participar de rodas de ciranda, aventurar-se nas florestas etc... tudo isto já foi um excelente meio de a Identidade Pessoal se firmar como um esteio forte para o Espírito encarnado e em Evolução. Mas tudo isto foi eliminado da infância. Esta, agora, está tomada pela parafernália cibernética e a criança, quase ainda no peito, já tem de se comportar segundo manda o Mercado de Consumo. Os pais, conscientemente ou não, direcionam seus filhos segundo seus anseios do que seja "o melhor para eles". Mas o fazem desastradamente. Isto está bem explorado, ainda que não tenha sido a intenção do autor, na novela A VIDA DA GENTE, na personagem Ana e seu relacionamento com a mãe e a técnica de tênis. Pena que os telespectadores não estejam capacitados para ver além do que a trama corriqueira mostra na telinha. Os dramas de algumas telenovelas inteligentes retratam a superfície do Sofrimento humano. Mas para isto, exageram em cenas que só reforçam o apelo sexual acéfalo, assim como a defesa do comportamento vingativo, erótico, sensual e competitivo desnecessariamente. Competição, erotismo e vingança não são comportamentos que devam ser estimulados junto a um povo emocionalmente primitivo como o que somos. Por isto as telenovelas brasileiras terminam, sempre, sensaborosas e se tornam reforçadoras de Identidades Pessoais desestruturadas. Por não saber como conduzir a trama construída, os autores telenovelescos sempre levam seus enredos a finais de conto de fada. Tudo sempre acaba muito bem e em festa, o que não retrata, de modo algum, a realidade que se vive. Entretanto, no Brasil, as telenovelas são o "ópio do povo" brasileiro porque, através dos sonhos infantis que despertam na Identidade Individual de cada um, amortiza a consciência de uma realidade dura, corrupta e injusta, o que, a meu ver exclusivo, isto é muito perigoso. Elas são vistas pela quase totalidade da infância brasileira e são um instrumento de erotização perigoso para crianças ainda pré-pubertárias. Li, no blog da Nova Escola, que uma menina perguntou a uma professora: "Professora, por que a minha xereca pisca quando vejo um homem e uma mulher se beijando na TV?" Esta pergunta devia servir de alerta para os pais de todas as meninas e de todos os meninos pré-pubertários. Controlar o horário e os programas de conteúdo erótico (e as telenovelas brasileiras exageram nisto) que a criança deve assistir na TV é uma medida importante para evitar a erotização precoce da infância. Até nos Estados Unidos já há educadores e órgãos governamentais alertando contra este drama infantil, que o Mercado despreza porque vê, na infância, um manancial de lucro.

Eu poderia escrever um livro vultoso com abordagem científica sobre o assunto, mas isto não é possível num blog. Entretanto, creio que coloquei o meu leitor diante de um tema que poderá levá-lo a repensar seu modo de viver e de agir dentro de seu lar. Com base no que eu lhe digo, observe-se e ao seu companheiro (ou companheira). Verifique quantos "muito obrigado(a), meu amor"; "muito obrigado(a) meu filho(a)" foram ditos naquela semana. Veja quantas vezes foi elogiado ou fez elogios ao seu parceiro (ou à sua parceira). Veja como está educando sua prole, caso a possua. Se não, veja como estão educando seus irmãos menores. Enfim, torne-se por um momento introversivo, saia da situação e se observe e ao seu mundo de relação próximo a fim de detectar onde e como você praticou a Gentileza, o Elogio e o Incentivo em seu lar. Mas, principalmente, veja como você age em relação ao seu(a) parceiro(a). Se se pegar cobrando mais que oferecendo; mandando mais que solicitando; criticando mais que ajudando; exigindo mais que cooperando, então, você está doente. Busque mudar seus hábitos desviantes. Às vezes isto só depende de um pequeno esforço de sua Vontade. Mas se esta não for suficiente, então, busque ajuda de profissional competente - o psicólogo. Ele é preparado para ajudá-lo a sair deste atoleiro.

Sempre que me vejo obrigado a pôr fim a um artigo me sinto frustrado. Sei que todos eles são longos e muitos são profundos, técnicos demais para o leigo em Psicologia, embora eu me esforce para colocar o assunto ao nível do senso comum. Mas acredito que os temas que abordo levam os leitores a voltar suas atenções e seus pensamentos para áreas da vida que estão bem ao seu lado ou, melhor, nas quais estão inseridos, mas não atentaram para elas até me lerem. Então, este "empurrão" deve, creio eu, levar alguns a se interessarem por ampliar mais seus conhecimentos a respeito e isto já me satisfaz.

Um abraço e até nosso próximo encontro.

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