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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PSICOLOGIA PARA LEIGOS - ANSIEDADE E MEDO, O MAL DESTE SÉCULO (VII)

O CÚMULO DA ANSIEDADE
Fizeram-me uma pergunta interessante, que eu não tinha pensado em abordar porque parti do suposto de que todos os leitores sabiam quais são os sintomas mais "populares" de uma reação de ansiedade. Um erro que pretendo corrigir aqui. Eu disse que a ansiedade não é necessariamente um mal. Que não podemos viver sem um mínimo desta reação emocional (sim, ansiedade é emoção, a mais básica e fundamental para nosso viver). Os sintomas da ansiedade só se fazem presentes quando o estímulo ambiente ultrapassa a percepção de certeza (=controle) e de segurança do sujeito. Se uma pessoa se encontra em um ambiente onde todos os estímulos nele presentes são-lhe conhecidos e a pessoa sente que mantém controle sobre eles e que eles não lhe são ameaçadores, seu nível de ansiedade é aquele mínimo necessário para o bom funcionamento do SRAA (Sistema Reticular Ativador Ascendente). Então, esta emoção funciona para o organismo e, não, para a psique. Por isto, não é percebida. Entretanto, se você está em um ambiente onde os estímulos, ou pelo menos um deles, fogem ao seu coeficiente de certeza, de controle, ocorre uma percepção de insegurança e, concomitantemente, de ameaça. Então, a emoção de ansiedade aumenta de intensidade para que seu corpo se prepare para ter uma de duas reações: fugir ou lutar. No caso do Hulk, acima, a reação de ansiedade do Dr. Banner termina por prepará-lo para lutar e ei-lo transformado no monstro em que todo altamente ansioso gostaria de se transformar.
Uma reação de ansiedade geralmente é percebida organicamente com os seguintes sintomas fisiológicos: boca seca; palpitação cardíaca; extremidades do corpo frias (mãos, pés, orelhas, ponta do nariz etc...); visão turva; pernas bambas; tremores; obinubilação da consciência etc... Às vezes a pessoa muito reativa também pode apresentar náusea ou, até mesmo, vômito; choro descontrolado; agressividade destrutiva acéfala, isto é, sem uma direção definida; descontrole esfincteriano (urinar-se; defecar-se); gritos; esperneios etc... Estes últimos sintomas são mais presentes em pessoas excessivamente sensíveis aos estímulos ansiogênicos.

Fatores psicológicos influem mais do que se deseja no desencadeamento de reações ansiogênicas. Educação coartadora, inibidora da ação social participativa da criança torna-a insegura, tímida diante das solicitações ambientais e na relação interpessoal com crianças de mesma idade ou em faixas etárias próximas. Crianças assim educadas em casa são fáceis vítimas de outras, mais agressivas ou mais desestruturadas emocionalmente. Como se costuma dizer, a criança reflete em qualquer parte sua educação familiar. E também reflete as tensões interparentais que presencia ou cujos resultados lhe caem em cima. São, por outra parte, mais ansiosas que aquelas cuja educação familiar não é agressiva, coartadora ou cerceadora da liberdade da criança. Nem sempre educar os filhos para serem cordatos, meigos, gentis e inábeis em defender seus territórios físicos e psicológicos é saudável. Os pais devem estar atentos às mudanças sociais que, em nosso tempo, acontecem com a velocidade do som. A prática do esporte, principalmente aqueles de grupo, é de suma importância nos dias de hoje. Devem fazer parte integrante da educação da criança, mormente quando os apelos dos corruptores para a escravidão ao vídeo é intensa. Tenho notado que as crianças da classe média e média alta tendem a ser exageradamente desenvolvidas para a idade, mas são displásticas, balofas, flácidas e indefesas fisicamente. Arrastam-se pelos corredores dos shoppings como lesmas gordas, quase sempre com um sanduiche ou um sorvete nas mãos, ainda quando não estejam sentindo fome real. Comem por ansiedade ou por mau hábito. Tendem a andar em grupos e, quando são grupos regidos pela agressividade destrutiva, confiam uns nos outros para a prática de atos destrutivos ou violentos contra outras crianças. Às vezes, praticam agressão contra outros grupos de crianças que notam não ter a disposição agressivo-destrutiva de que estão tomados. Como os elementos individuais integrantes de um grupo social de mesmas características psicoemocionais e orgânicas se atraem, os grupos agressivo-destrutivos indicam que seus elementos são oriundos de famílias desestruturadas, caracteristicamente agressivo-destrutivas, ou onde os laços interpessoais são frouxos, quase inexistentes. Pais que trabalham fora e não mantêm quase nenhum contato com seus filhos são indicadores de tais grupos familiares. Seus filhos crescem ao sabor da TV e dos jogos de Videogames; dos desenhos animados e dos filmes deseducativos, incentivadores da violência audiovisual, onde a vida não tem valor, mas a arma e os punhos, sim. Não vou adentrar o campo dos estudos psicoemocionais profundos, das teorias psicológicas, psicanalíticas e psiquátricas, mas ressalto que é em tais ambientes sem limites bem definidos pelos adultos responsáveis que a Identidade Individual das crianças se perde entre o mundo do faz-de-conta irresponsável e o mundo real, objetivo e duro. Quando aqui escrevo revoltado com a TV Globo e suas novelas psicologicamente doentias é porque sei o quanto o estímulo audio-visiual pode entortar uma identidade Social em desenvolvimento. E esta, atinge em cheio a Identidade Individual, tornando-a desviada de sua maturação sadia. A propósito, é comum pais me dizerem que seus filhos de tenra idade (cinco anos ou menos) "as vezes estão diante da TV mas não estão prestando atenção ao filme de terror ou de violência que ali é exibido, pois brincam com o irmão ou a irmão todo interessados no que estão fazendo". Isto é um tremendo equívo de pais mal informados. Nós não percebemos o mundo somente pela pupila, isto é, pela visão focada no objeto. Muito pelo contrário, percebemos o ambiente ao nosso redor muito mais ampla e intensamente através dos bastonetes que são terminais nervosos aptos a captar estímulos visuais difusos, que se encontram na visão periférica de nosso foco. Os estímulos visuais assim captados são imensamente em maior quantidade do que aquele focalmente percebido. Tanto que os praticantes de artes marciais, mormente no karatê-do e no wushu chinês, fazem exercícios para perceberem mais através da visão periférica do que pela visão focal. Quando se vêem diante de um grupo de agressores, não os olham de frente, mas miram para baixo, para o chão, pois assim inibem a visão focal e ampliam a visão periférica. Isto lhes permite perceber movimentos de ataques simultâneos e executados por vários agressores, o que não seria possível se se servissem da visão focal. Sou instrutor de wushu de Tai-Chi-Tchuen além de psicólogo e não falo apenas por teoria, mas pela prática, portanto, sei o que digo. As crianças, exatamente porque ainda não estão aprisonadas em conceitos e preconceitos sociais castradores e inibidores da ação psicoemocional, percebem mais intensa e profundamente os estímulos ambientes periféricos. Crianças diante de estímulos agressivo-destrutivos, mesmo quando não estão focadas visualmente neles, apreendem-no em seus significados mais profundos e tais estímulos tendem a aumentar seu padrão natural de ansiedade, tornando-as ansiosas crônicas. Sonhos, pesadelos, crises de birra, agressividades destrutivas contra coleguinhas podem ser sintomas de que estas crianças estão sendo afetadas pela torrente de estímulos sociais padronizados para difundir a agressividade violenta como "distração". Tenho notado, também, que os jovens, quando saem dos cinemas onde foram exibidos filmes de Van Dame ou Jet Li, ou de outros artistas marciais e nos quais as cenas foram muito fortes, andam como se seus corpos estivessem tomados pela força e pelas técnicas que acabaram de ver na tela cinematográfica. Se provocados, ainda que acidentalmente, estes jovens tendem a reagir com violência, pois estão, psicologicamente, identificados com o herói marcial que lhes inundou a psique. Os pais deviam ser mais bem informados a este respeito, para poderem compreender a necessidade de dar maior atenção aos seus filhos e os orientar, não no sentido de serem medrosos, covardes e assustadiços, mas no sentido de perceberem, compreenderem e evitarem, se possível, ambientes potencialmente agressivo-destrutivos.

Praticantes de Aikijujutsu
Como pai e psicólogo, não aceito a idéia de que a criança deva ser educada sem saber defesa pessoal. Não interessa qual seja seu sexo, pois, na rua e nos ambientes sociais de modo geral, a violência está à espreita e quase sempre os pais não estão ao lado de seus filhos para os defender. Sou partidário da antiga filosofia pregada por meu pai: "É melhor mandar flores para o leito hospitalar de seu inimigo, do que chorar no seu buraco, meu filho". Não que, com isto, eu esteja incentivando os pais a ensinarem seus filhos a se tornarem assassinos, não. Também não é essa a mensagem do velho ditado, ainda que expressado de modo tão rude. Quero dizer que, se numa situação de violência, como o tal "booling" tão em voga nas escolas brasileiras, por exemplo, quando uma criança é atacada covardemente por um grupo de outras crianças violentas, prefiro que ele tenha conhecimento da arte da defesa pessoal e saiba sair inteiro ou ileso da agressão, do que ter de chorar porque ele foi aleijado ou morto por um grupo de identidades mal-formadas, aleijadas educacionalmente. Meus filhos sempre praticaram arte marcial, desde os três anos de idade. Começaram com o judô (que salvou a vida de minha filha, quando ela contava apenas quatro anos e caiu da altura de dois metros, de cabeça para baixo. Sem mesmo notar que o fazia, ela fez o rolamento de judô e se levantou como se a queda não fosse absolutamente nada, o que espantou todos os pais que assistiram ao tombo fenomenal) e seguiram com a capoeira, o tae-kwon-do e o buguei, a arte samurai de combate. Mesmo sendo exímios lutadores, nunca, até hoje, quando um está com 25 anos e a outra com 26, jamais se envolveram em pancadaria. Ao contrário, nas "baladas", quando o ambiente começa a ficar descontrolado devido à bebida e à agressividade reprimida de outras pessoas, eles percebem o ambiente antes que se torne explosivo e saem independentemente de com quem estejam. Aprenderam, através da Arte Marcial, a evitar o confronto, a violência gratuita e desnecessária. Só uma única vez meu filho se envolveu em uma briga. Tinha 13 anos e fazia um ano que tentava entrar no time de futebol de pelada de rua formado pelos garotos de nossa vizinhança. Mas havaia um menino, de 14 anos, forte, bem mais forte fisicamente que ele (que sempre foi magro e franzino), que não permitia seu ingresso. Toda vez que meu filho tentava entrar no time, era escurraçado com grosseria pelo grandão e líder mau caráter do grupo. Como todo líder mau caráter, ele também possuía os que o obedeciam por medo. Eu nunca fui informado nem pelo meu filho, nem pela sua mãe, desta situação. Mas uma tarde, ele chegou do colégio público onde estudava, irritado e de mau humor. Então, resolveu ir jogar pelada para se desfazer da tensão. Foi agredido pelo grandão. Desta vez, ao invés de se afastar, peitou o mau caráter e disse que ia entrar no jogo e ninguém o impediria. O grandão, que era filho de um praticante de karatê-dô e também praticava esta arte, infelizmente com um mau instrutor, resolveu partir para a agressão física. levou um kotê-gaechi bem aplicado e rodou no ar, esborrachando-se de costas no asfalto da rua. Ali ficou estatelado, amarelo e sem fôlego. Outros garotos partiram para cima de meu filho e não tiveram melhor sorte. Voou menino para todo lado, pois ele empregou as técnicas de aikijujutsu (de onde derivou o aikidô) e quando sua mãe chegou ao portão, atraída pela gritaria na rua, onde ouviu o nome dele ser gritado, viu nosso filho sendo tentado dominar por um jovem de 17 anos, alto, que também estava apanhando e tendo um trabalhão para conseguir fazer que meu filho sossegasse. Foi a única vez em que ele reagiu com violência, em sua curta vida. Durante muitos anos só se falava na "valentia" do F. Eu tive de me intrometer, pois o pai do garoto ameaçou bater em meu filho. Felizmente, não tivemos de chegar às vias de fato. Ao contrário, terminamos amigos e freqüentando a casa um do outro. Sou partidário da idéia dos pais colocarem seus filhos para aprender defesa pessoal. Nos dias de violência gratuita que se vive, é melhor mandar flores para o leito dos outros agressores, do que chorar junto ao leito de nossos filhos. Os pais brasileiros estão muito mal acostumados a delegar a terceiros o que é responsabilidade unicamente sua. Por exemplo: delegam aos professores educar seus filhos, quando esta é tarefa dos pais. O professor tem a obrigação de instruir e dar educação cívica, não aquela familiar que compete aos genitores. Delegam à Polícia toda a responsabilidade por sua segurança, em vez de também fazerem sua parte. Acho horrível que policiais e autoridades de segurança repitam à exaustão: "Em situação de assalto, não reaja. Entregue ao bandido o que ele quer". Não somente o cidadão de bem ouve este conselho absurdo, mas também o bandido que ganha um aliado de peso no policial e na autoridade que diz isto. Eu preferia que fosse aconselhado o seguinte: "Quando você vir que outro cidadão está sendo assaltado, reaja e o ajude. Pau, pedra, vidro, cadeira, sapato, zoeira infernal, tudo o que estiver ao seu alcance lance contra o assaltante. Eles são covardes e se virem uma reação de grupo, vão fugir com o rabo entre as pernas. Unam-se. Não se acovardem. Não entreguem o que têm de mãos beijadas ao bandido, pois isto o torna cada vez mais ousado. A covardia gera a ousadia do fraco". Além disto, reagir e colocar em ação a ansiedade e a tensão que situações como a de um assalto gera, faz bem à nossa saúde. Aumenta nossa auto-confiança; estimula nossa auto-estima e nos permite ver os fatos não através dos vidros embaçados do medo, mas sim através da lente de aumento da ansiedade, o que é muito bom. Há situações em que nós podemos não reagir por opção e, não, por covardia. Há situações em que se pode perceber a disposição do meliante para nos ferir, até mesmo para nos matar, fiquemos ou não quietos. Então, penso eu, é melhor partir lutando que se acovardando. Ao menos se tem 50% de chances, não é mesmo? Já passei por ambas estas situações e estou vivo e sem ferimentos. A mais delicada e mais perigosa foi a segunda situação, pois o atancante estava drogado e totalmente alucinado. Tive de atacá-lo e feri-lo com certa gravidade, para não ser morto. Se obedecesse aos arautos da covardia, não estaria escrevendo aqui, hoje. A Polícia, se chamada, só chega pelo menos uma hora depois do telefonema. Tempo demais para se esperar diante de uma arma e de frente para um alucinado. Vi, tanto no Rio quanto aqui, em Goiânia, crianças meliantes assaltando em pontos de ônibus, armadas com pedaços de vidro ou gilete. E fiquei horrorizado de ver os homens disfarçarem sua presença, olhando para os lados e recuando de costas, enquanto uma mulher estava sendo atacada por dois ou três pequenos marginais. Sempre reajo e ataco. Não me interessa a idade nem o ECA. Bandido é bandido e se a criança não aprendeu a educação social em casa através do amor, tem de aprender na rua através da dor. E quando bato, não tenho piedade, não. Não bato para matar, pois isto me repugna. Mas bato para que fique uma lembrança bastante assustadora na memória do pequeno infeliz. Nunca nenhum deles voltou para se vingar, quer sozinho, quer em gangue. Algumas vezes (duas ou três) eu me deparei com aqueles a quem surrei. Estavam em grupo, mas assim que me viram fugiram e arrastaram os outros consigo. Então, a fantasia de que o meliante pode reunir um grupo e vir vingar-se é exagero. Não nego que pode acontecer, mas é exceção. Tenho, hoje, 70 anos e não possuo mais a agilidade nem a força nem a técnica que já possuí, no passado. Mas a experiência é bem maior. A malícia também. Então, continuo tão perigoso para um criminoso quanto antes. Meu conselho a homens e mulheres é que, em vez de ficar pagando a psicólogos ou psicanalistas para encontrar uma desculpa para sua fraqueza e covardia, que entrem para um bom dojô de artes marciais e treinem com afinco. Pricipalmente aprendam técnicas de defesa pessoal, pois a ação acontece numa fração de segundo e tem de ser precisa, sem erro nem hesitação. Acreditem em mim: Arte Marcial, a verdadeira, não torna seu praticante uma pessoa violenta, não. Ao contrário, torna-a pacífica, comedida e amigável. Só as Artes de Luta de Competição podem levar ao apego à violência gratuita. Mas isto é outra história.




NAMASTÊ.
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