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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PSICOLOGIA - A DIFÍCIL RELAÇÃO HOMEM-MULHER (2)

PSIQUE E EROS NO LEITO

Qual é a diferença entre sexo e cópula? Se tomarmos o Dicionário Michaelis de português iremos encontrar a seguinte definição para sexo: "Conjunto de caracteres, estruturais e funcionais, segundo os quais um ser vivo é classificado como macho e fêmea; conjunto de pessoas que têm a mesma organização anátomo-fisiológica no que se refere à geração; instinto genésico, atração sexual ou sua manifestação na vida e na conduta". No mesmo Dicionário, cópula é definida como: "Ligação. Ato sexual; coito; (...)". Quando criou a Psicanálise, Sigmund Freud ampliou substancialmente o significado do vocábulo sexo. Segundo seu entender - e que deve ser o dos profissionais tanto da psicanálise quanto da psicologia atuais - sexo é prazer. Não somente o prazer advindo do coito, da cópula. É qualquer prazer que se possa sentir. Com isto, Freud distinguiu e clarificou um termo de extrema importância na análise e na compreensão do comportamento e do sofrimento humanos.

Quando uma pessoa chega à casa, suada, cansada, irritada pelo calor e vai tomar um banho, o contato da água escorrendo pelo corpo e lhe retirando o suor e aliviando o calor e o cansaço dá-lhe grande prazer. Então, do ponto de vista da psicanálise e da psicologia, a pessoa está fazendo sexo com a água e com seu próprio corpo. Ao esfregar o sabonete no corpo com satisfação a pessoa está em sexo com o sabonete. Ao se enxugar, relaxada após o banho, a pessoa está em sexo com a toalha de que se serve. Ao calçar as sandálias e sentir seus pés confortavelmente aconchegados ali dentro, ela está em sexo com sua sandália. Ao vestir o roupão de banho para sair do banheiro sentindo satisfação pelo toque macio do tecido em seu corpo, ela está em sexo com seu roupão. Como se pode ver, todos nós praticamos sexo a todo momento de nossas vidas. Mas o sexo é volátil. A mesma pessoa de meu exemplo pode chegar a casa ansiosa porque tem um dilema que deve enfrentar em uma hora e não sabe como irá se comportar dentro dele. Seu banho é agoniado. Psicologicamente ela não está sob a água; não sente o frio do líquido retirando-lhe o suor e lhe aliviando o calor. Sua Mente está presa ao dilema e ao tempo que se escoa; está mergulhada nas opções que possui e no modo de servir-se delas para safar-se da enrascada. A toalha é passada no corpo e seu contato macio  não é percebido. As chinelas são calçadas automaticamente e não são notadas quanto ao conforto que dão aos pés. O roupão é vestido às pressas e seu aconchego não é percebido. Esta pessoa não está em sexo com nada à sua volta. Ela está psicologicamente e psicanaliticamente falando em estado de castração sexual.

Quero chamar a atenção de meus leitores para este construto: estado de castração sexual. Não  é um construto que se encontre em livros técnicos de Psicologia ou de Psicanálise, mas é uma realidade objetiva, pouco observada pelos profissionais e que ocorre muito amiúde com toda a população humana nesta sociedade neurótica que construímos sobre o planeta Terra. Eu já me utilizava dele na década de 1980, quando trabalhava em minha clínica psicológica, no Rio de Janeiro.

Uma pessoa é um ser tridimensional em sua constituição. Em uma primeira dimensão ela possui um corpo físico, orgânico e funcional. Na segunda dimensão ela possui um corpo emocional, energético e dinâmico. Finalmente, na terceira dimensão ela possui uma psique, ou seja, uma Mente, que é tanto ativa quanto passiva. As pessoas de nossa atualidade não sabem funcionar equilibradamente com estes seus três corpos ou com estas suas três dimensões. Por isto são seres quase sãos, quase doentes. A higidez (estado do que é sadio) de qualquer pessoa requer, em primeiro lugar e antes de tudo, que ela saiba funcionar equilibradamente nas três dimensões - a dimensão física, a dimensão emocional e a dimensão mental ou psíquica. Temos, agora, uma pergunta crucial para nossos quase sãos, quase doentes:

- O que acarreta o desequilíbrio da pessoa em suas três dimensões?

A resposta não é simples, portanto, vamos tentar abordá-la por partes. A primeira parte, que devia estar ultrapassada, é aquela da Religião. A segunda parte, crônica tanto no Brasil quanto no mundo, é aquela da Educação Familiar. A terceira parte, endêmica no Brasil, é a que diz respeito à Instrução Escolar. A quarta parte, a mais complexa e mais entranhada na vida das pessoas no mundo todo, é aquela Econômica.

Comecemos pela primeira parte, a parte religiosa, pois a religião é intrínseca ao viver humano. E vamos começar afirmando que toda pessoa, em qualquer lugar do planeta, é religiosa. Portanto, não há esse negócio de eu sou agnóstico ou eu sou ateu. A característica primeira de uma Religião, qualquer que seja sua modalidade, é o ritual. Toda Religião, assim como toda seita, em suas práticas mantêm inevitavelmente uma seqüência de cerimônias ou fórmulas de ação que compõem seus rituais próprios, caracterizando o culto de cada uma. Estas cerimônias vão desde o trajar-se até o comportar-se, seja dentro do templo, seja fora dele. Exemplo: é característico dos homens evangélicos andar de terno preto portando uma Bíblia na mão; da mulher evangélica, andar com vestidos de mangas compridas, com decotes curtos, quase fechados e saias abaixo dos joelhos. Este é um rito comportamental da Religião Evangélica. É característico dos muçulmanos, nas mulheres, o uso da burka; nos homens, ajoelhar-se em determinadas horas do dia, estejam onde estiverem, sempre voltados para Meca, prostrando a testa no chão para orar. É característico de homens e mulheres católicos persignarem-se ao presenciarem um fato anormal, trágico, assustador ou doloroso. É característico dos praticantes do espiritismo de terreiro portarem guias "protetoras" em seus pescoços, ou em seus veículos; ou usarem firmezas feitas com palha trançada em braços e pernas, no caso do Candomblé. O ritual, portanto, tem suas raízes profundamente na Religião. Assim, quando uma pessoa traja roupas que obedecem a determinados padrões para poderem exercer suas atividades profissionais, mesmo que não o saibam, estão realizando um rito religioso. O médico, quando traja seu avental branco; o executivo  quando veste seu terno preto, cinza ou azul-marinho com uma gravata geralmente vermelha, cinza ou azul e assim por diante. Então, podemos afirmar que a estrutura de qualquer sociedade humana, em qualquer país, tem suas fundamentações nos ritos religiosos avoengos. Você pode observar o ritual na prática dos vários esportes criados pela raça humana. Todos eles têm vestimentas próprias, objetos específicos e ritos adequados. O praticante de qualquer deles, pode até não freqüentar uma igreja ou um templo qualquer e não estar nem aí para as questões do Espírito ou de Deus, mas sem o saber está sendo religioso, pois ser escrupuloso, exato, pontual, observador, disciplinado e fiel, exigências de quaisquer esportes, é praticar uma religião. Até a prostituta que é fiel à sua profissão, cuidando de sua saúde para não infectar seus clientes; buscando manter-se em forma e atraente, mesmo que seja a mais depravada e vulgar e não vá a qualquer templo, pratica uma religião. O obsessivo pratica sua religião tanto quando o compulsivo... Está rindo? Ora, observe os evangélicos que aparecem nos canais de TV agarrados a um copo d'água, carateando desesperadamente e gritando ladaínhas de invocação e intimação a Deus para que abençoe a água daquele copo e, por extensão, dos copos que centenas, talvez milhares de outros obsessivos seguram diante de seus aparelhos de TV's. Aquele é um comportamento obsessivo, pois de tanto realizá-lo, quando o crente falha um dia sente-se agoniado e tenso. Chega um ponto em que o seguidor do evangelismo de TV acredita piamente naquele gesto e se desestrutura todo se por alguma razão deixa de o realizar ou de ser dirigido pelo seu Pastor.

Então, fixemos esta assertiva: a sociedade humana, em qualquer parte do planeta, tem suas bases na religião e isto molda profundamente seu comportamento. Voltarei ao tema no próximo artigo.

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