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sexta-feira, 15 de abril de 2011

FÁTIMA BERNARDES E A REBIMBOCA DA PARAFUSETA

Olha a expressão do William Bonner. Ele nunca se
esquece das câmeras?
Você sabe o que é a rebimboca da parafuseta? Bom, é algo tão, mas tão, mas tão insignificante que, para que você entenda o quanto é insignificante, vou fazer uma comparação. Tome um vírus. Sim, um vírus. Você sabe que o vírus é a mais primitiva forma de vida sobre a Terra. É a transição entre o inanimado e o animado. É tão pequeno que infecta até mesmo uma bactéria. Pois bem, tome um vírus e o compare com a importância de Barack Obama no cenário político mundial. A infinitésima insignificância do vírus nesta comparação corresponde ao valor que tem a rebimboca da parafuseta.
Bom, agora que você já sabe o quanto é insignificante a rebimboca da parafuseta, vamos plantar-nos diante da Televisão e assistamos a Fátima Bernardes abrindo o noticiário – de manhã, ao meio-dia e à noite. É simplesmente admirável a plasticidade facial e expressiva da repórter. Todos nós sabemos que o noticiário Globo tem por princípio pegar uma notícia sem importância nacional e transformá-la em um tsunami mundial. Por exemplo: o assassinato de crianças levado a efeito por um desequilibrado psicafetivo. Acontecimento extremamente relevante para o Rio de Janeiro, cuja população há décadas vem sendo acicatada com a azagaia da agonia manejada desastrosamente pelos criminosos de todas as camadas sociais. Acontecimento de menor importância para outras Unidades da Federação, onde a violência escolar  ainda não chegou às raias daquela loucura, mas onde o germe de sua existência já se encontra em gestação, graças aos donos dos discursos vazios sobre a Educação e a Liberdade dos jovens blá-blá-blá etc e tal. Um assunto que merecia uma notícia apresentada, no máximo, em um dia – três apresentações. Mas a Fátima Bernardes e seu companheiro Willian Bonner esticam, esticam, esticam e esticam o assunto até torná-lo nauseabundo e insuportável ao telespectador. Pior, até impregnar os maus elementos de outras unidades da federação com a idéia de fazer igual ou pior que aquele que está na crista da onda global.
Fátima começa fazendo uma cara de repugnância total – na primeira vez que dá a notícia. Seu rosto aparece na telinha com uma expressão de pasmo misto de reprovação cívica absoluta. A voz, nem lenta nem rápida e num diapasão médio, que penetra fundo no telespectador, é literalmente lançada do vídeo na cara de quem está diante da TV. A velocidade é estudada magistralmente. Tem a rapidez de quem acabou de escapar da mordida de um cão e procura se controlar para poder se fazer entender. O corpo é lançado para a frente e se apóia nos cotovelos sobre a mesa, o que dá a sensação de que a repórter está com um grande peso nos ombros. Estes, fecham-se à frente, estreitando o tronco e afundando o tórax, postura mais comum nos deprimidos  e oprimidos, mas que empresta à notícia bombasticamente apresentada uma dimensão bem maior do que realmente tem. A notícia, assim anunciada, prende a atenção. Pronto, o telespectador foi fisgado. A partir de então os repórteres procuram escarafunchar ao máximo os mínimos detalhes da notícia. Fuçam até a latrina do morador que vive a trezentos quilômetros do local do acontecimento. E os dias se sucedem com o telespectador sendo bombardeado, três vezes por dia pela mesma notícia, mas enfocada através de detalhes cada vez menos importantantes e, às vezes, mais sórdidos e perfeitamente dispensáveis. E aí, quando tudo parece ter sido esgotado, os repórteres globais lançam a notícia sobre a rebimboca da parafuseta. Então, entra em cena a extraordinária capacidade mimética facial de Fátima Bernardes. Ela vai ao ar com cara de quem acabou de sair revoltada, mas não tanto, de uma curra mal feita. Os olhos parecem faiscar, mas estão opacos, com o brilho retraído e concentrado, o que transmite uma profundidade necessária à importância que a rebimboca da parafuseta deve adquirir. Os lábios se contraem numa expressão de raiva contida. A voz se impregna de uma nota sutil de censura, que contrasta fortemente com o jogo de cena facial e corporal. Ela procura concentrar em si, naqueles momentos cruciais em que deve impregnar de importância a rebimboca da parafuseta anunciada, toda a revolta que seu telespectador deve sentir para que possa aceitar a amarga imposição dos resquícios da notícia que, de tão saturada, já está sem cor. Cenas da notícia exaustivamente já apresentadas são re-re-re-re-re-reapresentadas enquanto a repórter solta ao ar aquela voz de agoniada, mas não tanto; de revoltada, mas não tanto; de indignada, mas não tanto, tudo com o fito de manter preso a qualquer custo o telespectador na expectativa de que vai surgir algo realmente novo, realmente bombástico. Mas não. Vem a maldita rebimboca da parafuseta. Fátima sabe perfeitamente que se exagerar no tom de voz, no jogo de cena corporal ou na expressão facial perderá audiência. Então, como uma equilibrista na corda bamba, mantém-se sobre o fio quase imperceptível do “mais nem tanto”. E quando finalmente conseguiu empurrar mais uma rebimboca da parafuseta no exausto telespectador, eis que a repórter muda radicalmente de expressão facial. Seu rosto se ilumina com um sorriso alegre – mas nem tanto – e com os dentes alvos à custa de cuidados semanais na cadeira do odontólogo – ela solta uma notícia que tem que ser aceita como algo bom, que relaxa, que traz felicidade. Seu corpo é lançado para a frente, apoiando-se sobre a mesa, como se a repórter quisesse entregar a notícia de corpo inteiro ao telespectador. Ah, que alívio! Enfim, uma notícia boa! Mas logo a seguir, eis que a Fátima se lança para trás na cadeira, sua expressão facial se fecha e ela, séria e censurosa, mas nem tanto, solta outra “bomba” que deseja que choque o telespectador. E assim, servindo-se magistralmente do jogo de corpo e das mudanças difíceis de serem conseguidas por outra repórter nas expressões faciais e na alternância do tom das palavras e na sonoridade da voz, a fantástica e irritante repórter global vai empurrando rebimbocas das parafusetas na gente. O resultado deste jogo diário de alternâncias cansativas é que o telespectador brasileiro vai-se tornando infenso à dor que a televisão mostra. Vai-se tornando impermeável à importância verdadeira das notícias verdadeiramente importantes. Vai-se tornando apático e incapaz de responder como deveria à ação danosa para o país, levada a efeito por gente como os  polititicas que trabalham sem  descanso para “abafar” a Lei da Ficha Limpa. Ô, Fátima, vê se manera no condicionamento da lavagem emocional que faz no público nacional. Vê se entende que deve trabalhar em prol do brasileiro e não contra ele, arre!


 

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