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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

BREAK DOWN PSICÓTICO - VOCÊ PODE TER DE ENFRENTAR ISTO.

A matriarca fala, o homem só escuta.
Falei do “break dawn” psicótico que pode acometer mulheres grávidas em função de traumas psicológicos. Também colaboram para isto choques entre convicções internalizadas e comportamento manifesto contrário a elas.
Uma jovem pode, por exemplo, sofrer um estupro. O estuprador praticou seu ato acobertado sob o efeito de um “Boa-Noite, Cinderela” e, por isto, a lembrança do ato violento não está presente na consciência da jovem. Entretanto, isto não impede que seu EU se tenha rebelado contra a violência, mantendo a cena gravada, mesmo abaixo do limiar de consciência. Uma tremenda energia de raiva, de frustração, de impotência, de recusa, de negação da dor, ficou reprimida no ser da moça. Como toda energia psíquica não arrefece com o correr do tempo, aquilo é uma bomba pronta para explodir assim que houver uma oportunidade para isto. Piorando as coisas, a jovem é uma religiosa praticante, logo, possui toda aquela estrutura culposa que as religiões cristãs implantam no Ser de seus seguidores. Então, o estupro teve conseqüências muito mais graves do que teria, se ela não tivesse dentro de sua Identidade uma forte censura a tudo o que diz respeito à cópula. Sexo, só depois do casamento sancionado pela religião e pela sociedade, através do cumprimento de todo o ritual que ratifica o direito de dispor do corpo, concedido por um pastor ou por um Juiz. Embora a violência não tenha sido resultado de um ato deliberado por parte da jovem, em seu íntimo permaneceu um tremendo mal-estar com a auto-acusação inconsciente, fruto da doutrinação religiosa. Claro que Narciso está implicado nesta situação, pois não nos esqueçamos de que ele é aquele ser que gosta, adora ser admirado, endeusado e paparicado. Ele gosta de se ver impecável, belo, puro, quando olha no lago dos olhos dos outros. Mas o ocorrido manchou sua beleza e conspurcou sua pureza e isto lhe é tremendamente inaceitável. Transporte este “Narciso violado” para a estrutura do Eu da jovem deste exemplo e você compreenderá que “a fúria de um deus foi despertada”.

Mas vamos piorar um pouco mais a história de nossa moça? Suponhamos que com idade muito tenra, talvez em torno de 12 anos, a jovem já possuindo um corpo bem desenvolvido, vem sentar-se no colo de seu pai. Este é um comportamento natural de uma filha para com seu pai. O pai da nossa jovem, entretanto, teve uma reação de ereção peniana ao contato com o corpo da filha. Ela notou o pulsar do pênis paterno sob sua perna e o olhou curiosa e divertida. Mas o homem, religioso fervoroso, tomou aquela reação natural de seu corpo como um tremendo pecado. Um pecado que fora incentivado pela filha. Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, ele, fortemente constrangido por aquela liberdade imoral, a empurrou com brusquidão, quase a derrubando, censurando-lhe a intimidade, uma vez que ela já era uma mocinha. Não devia se sentar nunca mais no colo dele. Aquela cena foi introjetada pela psique da criança como algo tremendamente pecaminoso e culposo, visto que seu próprio pai assim o dissera em voz alta e raivosa. Foi um trauma muito intenso para seu Eu em formação. E foi pior para seu Narciso interior, visto que aquele incidente causara uma mancha na beleza impecável dele. Assim, por defesa, seu psiquismo reprimiu a cena e suas emoções confusas para aquela parte de nossa mente a que Freud chamou de “inconsciente”.
Vou esclarecer o conceito de introjeção, pois se você não é psicólogo, nem psiquiatra, nem psicanalista, certamente não sabe o que isto significa. Introjetar é colocar para dentro de si, para o interior da “Personalidade”, um cenário de vida acompanhado da carga emocional que ele suscitou na pessoa. É como se se pudesse grava em nosso íntimo a fotografia de uma ocorrência, mas carregada pela emoção que ela nos causou. “Fotos” assim energizadas são introjetadas por toda pessoa durante a vida inteira. No Caso da introjeção de “foto” chocante, com energia negativa, um trauma aconteceu e ele vai perturbar toda a estrutura interna do Eu da pessoa, assim como vai interferir incomodativamente com o seu Narciso interior. Acho que para o leigo esta definição está muito boa.
E o que é reprimir? Bom, também em poucas palavras, entende-se a repressão como uma reação de defesa de nossa psique contra uma “foto” energizada altamente perturbadora para seu estado narcísico, ou sexual, prazeroso. Como não mais é possível cuspir aquela foto “ruim”, a psique reprime-a para o inconsciente e ali ela fica lutando para se libertar da prisão. Esta luta é travada pela emoção ruim, pois esta é uma energia que não se desfaz à-toa. Uma vez criada, ela só se esgota quando colocada para fora, mas nem sempre é possível realizar esta proeza. Então, as fotos ruins permanecem no nosso inconsciente causando transtornos leves – como o tremor incomodativo de uma pálpebra – ou intensos – como uma fobia incapacitante, como é o caso do pânico.
É claro que quem fica saltando dentro do óleo fervente na frigideira de nosso inconsciente é nosso Narciso interior.
Mas voltemos à história de nossa hipotética jovem. Ela até consegue falar das duas situações traumatizantes que viveu, mas não se emociona quando o faz. Isto quer dizer que houve uma cisão entre a foto e a energia má que a energizava. A foto vem à memória, à recordação, mas a energia má, não. E isto é péssimo. Aquela energia acéfala pode ser carreada para qualquer outro episódio fotografado pela pessoa. Basta somente que esta nova fotografia possua alguns sinais, alguns estímulos, iguais ou muito semelhantes   àqueles da foto dissociada. Com isto, o que era bonito nesta nova fotografia, torna-se feio e repugnante aos olhos do Narciso interior da pessoa. Se a nova foto é carregada com aquela energia má, negativa, então ela adquire uma qualidade má e é recusada pelo Narciso interno da pessoa. Em outras palavras, se uma nova experiência, porque se assemelha com os quadros da foto ruim, é introjetada, aquela energia má, acéfala porque não mais está presa à primeira foto, vai energizar a nova imagem e isto faz que a pessoa passe a ter comportamentos inexplicáveis de recusa, de repulsa, de  nojo, de inaceitação de quem seja a figura principal na nova foto.
O tempo passa. A nossa jovem se casa e engravida. E aí começa seu drama mais crucial. Ao regredir psicologicamente para formar uma unidade com o feto que gesta, ela se percebe “inconscientemente” como filha de seu marido. Aí, para azar de seu parceiro, sua figura passa a ocupar o lugar da figura do pai injusto naquela foto introjetada pela criança, há muitos anos. Aquele pai que a recusou e que, com isto, causou um trauma bastante perturbador para o Eu da criança que era a grávida em sua meninice. A energia acéfala, que precisa de um meio de escape, encontra este meio na nova foto. Você percebe a encrenca que se arma na psique daquela mulher? Todo aquele drama interno, inconsciente, é constantemente projetado para fora, justamente sobre a figura do marido da mulher grávida. Seu Narciso interior já não mais consegue se ver bonito e perfeito no “lago” que é o homem-marido. Por sua vez, o Narciso interior dele está aterrorizado diante da feiúra que seu reflexo lhe devolve através do “lago” que sua parceira é para ele.
Narciso e Eu interior não são a mesma coisa. O Narciso é a necessidade interna do indivíduo de se negar o que não seja sexual, isto é, negar em si o que não é belo nem causa prazer. O Eu interior é o conjunto de processos de aprendizagem que possibilitam à pessoa interagir com o mundo externo. De modo simplista, o Eu interior é aquilo que vulgarmente se chama de “Personalidade”. Este Eu trabalha sempre com o consciente, com a consciência. O Narciso interno, ao contrário, trabalha sempre no “escuro” do inconsciente. Sobre o Narciso, o Eu não tem qualquer poder, mas o vice-versa não é verdadeiro. O Narciso interior pode causar um inferno no Eu da pessoa.
Vem o parto e a coisa piora. Agora, a mulher está em plena crise puerperal, porém agravada por seus fortes traumas anteriormente reprimidos, recalcados, que, descontrolados, avançam cegamente para fora através de “visões” paranóicas. Em linhas gerais e de modo rápido e até superficial, pode-se dizer que a paranóia sucede quando o ambiente facilita o desencadeamento de uma propensão interna no indivíduo para a fantasia exagerada. E o paranóico é uma pessoa que fantasia muito e desgraçadamente dá crédito à sua fantasia. A realidade lhe é confusa e quase sempre ela não distingue a realidade da fantasia paranóide. As outras mulheres querem tomar seu marido e isto a aterroriza. Ela apela para o choro, para o masoquismo, isto é, para o sofrimento como meio de sensibilizar seu parceiro e o fazer sentir-se culpado. Encolhe-se num canto, chorosa e segurando um copo de bebida alcoólica nas mãos. Transmite a imagem de alguém infinitamente infeliz, desgraçada, e o faz sempre de modo a fazer que seu marido a veja como vítima de suas terríveis traições. Alterna aqueles momentos depressivos com outros de raiva furiosa. Quando enraivecida, parte para o ataque físico e a verborréia é prenhe de palavrões insultuosos. Nada do que ele faça para ela está certo. Tudo o que ele faz é errado ou tem segundas intenções. Ele a repudia; ele não a quer mais; ele tem outra em vista e a está enganando... e vai por aí a fora. A mulher começa a se negar a ser tocada pelo seu marido-pai. Seu Eu não pode suportar aquele “incesto”. O toque dele lhe causa repulsa e ela se esquiva, ao mesmo tempo que quer ser acarinhada, compreendida, amparada, protegida... Enfim, o homem fica sem norte naquele relacionamento de pesadelo. Para completar o quadro desnorteador, a mulher apresenta crises de ciúmes de enlouquecer. Se o marido está dirigindo e olha para o espelho retrovisor, leva um beliscão de arrancar pedaço da pele. Quando reclama, assustado e irado com aquele tratamento sem razão, a mulher, com ódio no olhar, exige que ele lhe diga para quem estava olhando através do espelho retrovisor. Se ele muda de faixa, leva outro beliscão porque a mulher supõe que ele viu alguém na calçada, outra mulher, e quer se aproximar dela para lhe dar uma cantada. E logo apela para um pranto piegas, onde se diz fraca, humilhada, traída, passada para trás... Se os dois estão indo ao cinema e ele, para evitar discussão por ciúmes, anda olhando para o bico do sapato, leva tremendo beliscão no braço. Quando, espantado, reclama contra aquela agressão estúpida, a mulher, com olhos fuzilantes de raiva, exige que ele lhe diga em quem está pensando. O homem se vê perdido em um terreno desértico, cheio de tremores de terra e vendavais inopinados. Seu sistema nervoso entra em colapso e ele passa a também gritar com a esposa que, então, afunda numa crise depressiva.
Tudo isto acontece em função da violência sofrida pela mulher tanto por parte do pai quanto por parte do estuprador. Aquela “dor” interior está no auge. Para piorar, a mulher entra em conflito com a criança. Ora a ama infinitamente, ora a detesta porque é filho(a) dele, do seu pai que a estuprou e lhe colocou o filho, produto do incesto, em seu ventre.
O ódio narcísico e paranóico não mais permite que ela aceite seu parceiro, ainda que o deseje. A vida marital, para ambos, vira um inferno.
Não há matrimônio que sobreviva a isto. Mesmo quando o casal é atendido por profissional competente, se o drama demora demais, o “amor” Narcísico desaparece e a reconciliação é impossível. É raríssimo que cada par do casal não termine buscando outro “lago” onde seu Narciso interior se mire e possa se ver belo, irrepreensível. Um “lago” onde o Eu ferido se veja admirado e acolhido por suas qualidades intelectuais ou não.
O que eu disse acima é apenas uma pálida aquarela da terrível realidade tempestuosa em que o casal se vê mergulhado repentinamente. O masoquismo narcísico da mulher em “break down psicótico”, se o homem não se controla e não tem uma educação firme, leva seu parceiro ao descontrole nervoso. A história pode terminar em morte. Exasperado, ele pode matar a mulher numa das violentas crises que ela, totalmente sem responsabilidade psíquica, deflagra entre os dois. Os filhos também correm perigo. A mulher pode, em crise, partir para cima deles e os machucar seriamente porque são “produtos de um incesto que ela odeia”. Ou o marido, raivoso, descontrolado, pode causar danos físicos e até mortais às crianças, em quem vê a extensão da maldade da mulher “enlouquecida”.
E é absolutamente difícil fazer que qualquer das partes envolvidas no drama Narcísico psicótico ouça a razão ou fale e se explique dentro da razão. Tudo é um rodamoinho em suas vidas; um rodamoinho do qual eles não sabem nem o princípio, nem o meio, nem o fim.
Bom, o que digo acima pode retratar o quadro de milhares de casais, no Brasil e no Exterior. Se você esta num rodamoinho destes procure com urgência um psicoterapeuta que possa ajudá-lo e à sua consorte. Se você conhece quem esteja neste mar de águas negras e profundas, ajude-o a buscar ajuda profissional. Mas jamais se meta a ajudar a qualquer dos dois envolvidos no drama, pois com toda a certeza será engolido para dentro daquele inferno.
NAMASTÊ!

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