O Demônio da Lubricidade, Rei
dos humanos...

Ontem vi, pasmo, um documentário da TV Futura sobre a Comissão da Verdade, criada na África do Sul para conceder anistia aos criminosos brancos e negros que cometeram atrocidades na África do Sul durante o horrível período do Aparthaid.
Aquilo me tocou a alma. Uma revolta enorme tomou conta de mim. Uma revolta de eu ter nascido aqui, neste mundo amaldiçoado por Deus, onde a raça que se diz “criada à semelhança de Deus” é de uma crueldade bestial. Quatro brancos e um negro apareceram em seus julgamentos. Uma mulher branca, cheia de ódio nos olhos, rechonchuda, bem alimentada, que vivia em verdadeiro palacete na África do Sul, um dia estava tomando café num lugar só para brancos. Limpo, bem cuidado, o contrário absoluto do gueto. Então, de repente, uma bomba pôs fim àquela tranqüilidade. Tudo foi pelos ares e a irmã da branca morreu no atentado. Ela estava no tribunal irada contra qualquer anistia que pudesse ser concedida ao ativista negro que cometera o atentado e que ali estava para confessar publicamente seu crime, dizer do motivo que o levou a cometê-lo e finalmente ser julgado em seu pedido de anistia. A branca tinha ira saindo pelo olhar. Acho que em sua maldita cabeça loura havia o desejo de ver o negro ser fuzilado ou coisa pior. Ela dizia que “não tinha nada com o Aparthaid. Que morava em sua casa tranqüilamente, desfrutando de uma vida boa, que julgava ser segura. E então, aquela brutalidade que lhe roubou a irmã…”

Parafraseando Jesus, eu digo: “Víboras! Sois como túmulo caiado. Branco e bem cuidado por fora, cheio de podridão por dentro!” O Rei dos Reis tinha razão em sua ira sagrada. Esta raça humana é como a víbora, mas muito, muito pior que a serpente. A loura era uma “coitadinha” que, apesar de tacitamente concordar com a prática maldita da humilhação de um povo que teve a desdita de ter a pele negra; apesar de viver no país que de direito sempre pertencera aos negros; apesar de fechar os olhos e se omitir quando seus iguais trucidavam, humilhavam, roubavam, torturavam e levavam centenas e centenas de famílias negras a chorar desesperada e desamparadamente pela vida de seus entes queridos, mostrava-se, ali, cheia de “justa raiva” contra um membro daquele povo sofrido que, devido mesmo à dor e ao sofrimento que sua raça vinha sendo submetida há anos e anos, fora levado ao ato desumano.
Malditos não são somente os brancos, não. Raça de Víboras somos todos nós os supostamente “humanos”. Onde está nossa humanidade? Na corrupção política? No matar mendigos queimando-os com álcool ou gasolina “apenas para se divertir?” Ouvir que milhares de pessoas morrem à míngua à porta dos hospitais públicos enquanto os políticos se preocupam em gastar o dinheiro público com festas estúpidas, como Copa do Mundo, com obras inócuas? Onde está a tal humanidade destes bípedes chamados humanos? As cenas descritas; as fotos dos torturados e mortos sob as mãos do ódio e do racismo estúpido me tocou fundo. Um fornido homem branco, sem qualquer arrependimento no olhar, nem mesmo temor, confessa que a sangue frio, quando era policial da Polícia de Segurança, prendeu sete rapazes negros que acabavam de deixar mulheres e filhos em seus casebres paupérrimos de negros para irem para os sub-trabalhos que lhes ofereciam os rechonchudos brancos. Levaram os sete negros para um lugar deserto e ele, tomando de uma barra de ferro pesada, golpeou por trás a nuca de um dos negros – Jabulani era seu nome. Viu-o cair morto por aquele golpe, mas mesmo assim atirou nele para se certificar de que realmente o matara. Enquanto o “branco” confessava seu crime sem qualquer expressão de remorso ou arrependimento, a esposa de Jabulani e sua mãe também se desesperavam com as fotos do corpo do rapaz sendo arrastado pela rua, amarrado pela cintura por um cabo de aço.
Anistia? Como? Por que? O que fizeram aqueles brancos de almas negríssimas para merecerem tal perdão? Eu me revoltei até o mais profundo de meu ser e amaldiçoei estar aprisionado neste mundo de miseráveis desumanos. “Viboras! Sois como túmulos caiados; brancos por fora e cheios de podridão por dentro!” Nunca, em tempo algum, uma frase descreveu tão bem a coisa antinatural que se autodenomina humano. Esta coisa desgraçada que merece tudo o que está vindo sobre ela, mas que continua inconsciente da realidade cruel que criaram para si mesmos e, aqui, no Brasil, no Carnal que ainda está por chegar, mas que já é furiosamente comemorado na Bahia e no Nordeste em geral, agrupa-se ao redor de palcos onde “macacóides humanóides” sobre o tablado, de pernas abertas como bêbedos que se escoram em si mesmos para não cair, agitam os braços acima de suas cabeças, sendo imitados pela turbamulta tresloucada na “alegria” carnavalesca. Alegria? Como estar alegre com o subemprego e as multinacionais da saúde que matam à míngua aqueles que lhes enchem as contas de milhões de reais, mas aos quais negam a prestação dos serviços que deviam prestar em troca do dinheiro sofrido que lhes é pago? Como estar alegre quando o Crime Organizado mata milhões de pessoas mundo a fora viciando-as nas drogas e levando-as ao mergulho sem volta no inferno da drogadicção? Como estar alegre quando corruptos de carteirinha estão no comando das nações do mundo? Em que, tais seres podem ser considerados humanos? Deus meu! E eu estou aqui, entre eles, no meio desta raça de víboras como bem a definiu o Homem de Nazaré. Afinal, quem sou eu?
Sinceramente eu me recuso à denominação de humano. Não, eu não sou humano. Sou um alienígena num Mundo de Tresloucados. Nestes últimos vinte anos de minha vida tenho mergulhado fundo na história que fui obrigado a escrever entre lágrimas, medos, raivas, covardias, rebeldias, revoltas e inseguranças e que comumente se chama de vida. Sempre tive a impressão de que eu era um ser que nunca conseguiu penetrar no Mundo. Um ser que passou a vida olhando o mundo através de uma vitrine sem janelas nem portas que lhe permitisse penetrar nele. As benesses deste mundo de loucos infernais nunca me foram permitidas. E muitas vezes eu me desesperei por isto. Desde criança sempre busquei meios de ajudar “meus semelhantes”, pois acreditava que eles o eram de verdade. Tive amantes ricas; deitei em alcovas imensamente desejadas por outros homens; bebi as bebidas caríssimas que são o distintivo dos que “podem”. Fui passageiro em iates faustosos; andei em salões de festas onde a “nata” do society se reunia para comes e bebes e outras cositas más”… E ainda assim jamais me senti pertencendo àquilo. Aquelas pessoas eram estranhas; vazias; inúteis; destituídas de conteúdo verdadeiro. Eram viajadas; conheciam com riqueza de detalhes os mais chiques lugares do mundo; falavam dois, três ou mais idiomas; exibiam jóias espetaculares e vestiam roupas de marca; discorriam soberbamente sobre Rembrandt e outros pintores famosos, mas não tinham nada em si mesmas. Eu podia sentir a solidão que carregavam em suas almas… Sempre me pareceram mortos-vivos que bailavam ao som melancólico de uma vida vazia…
Também dormi em esteiras, no chão, em banco de jardim, queimando de febre e não podendo ir pedir socorro aos meus parentes porque me havia indisposto com todos eles. Ajudei parentes quando eles não tinham mais a quem recorrer e recebi em troca ameaça de morte e muita raiva. Nunca hesitei em usar até de meu próprio corpo para ajudar a alguém que estivesse necessitado. Fiz isto por uma mulher que era mal-falada —“piranha; vagabunda; tomadora de maridos alheios; fofoqueira; traidora; homossexual enrustida…” — horrorizava-me tanta covardia, principalmente porque aqueles que a atacavam convivam com ela, sorrindo e fazendo mesuras para ela. Os “omens” que por suas costas a detratavam, eram os mesmo que a desejavam carnalmente. Eram os mesmos que, às suas costas, me diziam: “ela deve ser muito gostosa na cama”. Eram meus “amigos” e “amigos” da pobre mulher. Uma noite ela veio a mim, desesperada, angustiada, só, tremendamente só. Pedia ajuda com um olhar onde eu via muita dor; muita solidão; muita impotência diante da maldade dos “omens”. E aquilo me tocou a alma. Eu sabia que o de que ela precisava era por demais delicado: ela precisava de um homem. Apenas isto: de um homem. Não de um macho, pois isto já tivera e eles só ajudaram a afundá-la no desespero. Então, depois de alguns minutos de medo e insegurança; de experimentar aquele frio na barriga por estar diante da “Esfinge” de minha vida novamente, decidi ajudá-la. Eu estava arriscando tudo, de novo. Aquela mulher, se fosse um quarto de tudo o que dela se dizia, poderia usar o que eu fizesse para me jogar literalmente na sarjeta. Mais uma vez ia fazer aquilo que já fizera por outras pessoas e pelo quê já me dera mal uma dezena de vezes: ajudar. Tenho a alegria de saber que descobri naquela “piranha” um ser humano maravilhoso! Uma verdadeira Rainha. Hoje, faz muitos anos que não mais nos tocamos nem mesmo nos falamos. Mas sei que ela continua sendo a Rainha que precisava se descobrir para se sentir bem consigo mesma. E sei que ela carrega a lembrança de mim em um relicário dentro de seu coração, com muito amor e muita gratidão e eu lhe sou infinitamente agradecido, pois teve minha vida em suas mãos e podia ter-me jogado no mais amargo sofrimento, e jamais o fez. Entretanto, pago um preço danado de amargo pelo bem que fiz… Não só os falsos humanos gostam de machucar. Alguém invisível também adora fazer sofrer os que lutam por fazer o bem… Chamam a isto de Karma… Não será este vocábulo apenas um eufemismo?
Por que as pessoas gostam tanto de serem más com suas semelhantes? Como uma pessoa pode tomar de um porrete de ferro e golpear por trás, covardemente, outra pessoa desarmada e pacífica somente porque ela tem a pele negra? Como pode discorrer sobre seu crime hediondo sem demonstrar nenhum remorso na face de pedra, diante das câmeras de televisão do mundo todo, e pedir anistia para evitar a punição merecida? Meu Deus! Onde está a humanidade em gente assim? Por que presidentes de nações poderosas, que se dizem defensores da Democracia, por debaixo dos panos ajudam militarmente pequenos tiranos de países menos desenvolvidos unicamente porque querem manter sob controle as riquezas com que a Natureza proveu tais países?Onde está a humanidade, nisto? Por que ricos a mais não poder se reúnem para preparar e colocar em prática um plano maldito no qual a raça dita humana deve ser dividida na proporção 80 por 20, onde os 80% deve morrer à míngua à conta dos Governos e os 20% deve ser composto daqueles que, qualificados ao máximo por seus próprios esforços, deverão trabalhar em suas empresas, produzir riquezas que eles mesmos devem consumir e manter, assim, o sistema desumano da economia centrada no lucro a qualquer custo em funcionamento? Isto é humanidade? Você tem certeza que isto é realmente humanidade? Eu, não. Acho que é o cúmulo da animalidade bestial. A podridão de almas perdidas, que já deviam ter sido absolutamente varridas do cosmos pelo Seu Criador. E talvez esteja próximo o dia em que irá acontecer o tal Juízo Final. O Dia em que há de se ouvir choro e ranger de dentes, mas onde não mais haverá a Piedade Divina. Que assim seja!
AMÉM.