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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

OITO BILHÕES DO INSS GASTOS ANUALMENTE COM INVÁLIDOS DO TRÂNSITO.

Um Esquife de Luxo, eis o que este "carrão" pode vir a ser
nas mãos de um desesperado.
Um dinheiro que podia ter outra serventia vai para a sustentação dos irresponsáveis que provocaram acidentes de trânsito e ficaram inválidos. Só então é que passaram a venerar "São Soubesse". Isto não nos interessa. Não interessa ao Brasil. Deviam ter sido mais assíduos na adoração de "Santa Prudência" antes de sentarem, bêbedos, atrás de uma direção. Desde quando me entendo por gente que ouço campanhas da Polícia e de outras entidades sociais chamando os motoristas à responsabilidade para com a vida dos outros e, mesmo, para com a sua própria vida. Inútil. O brasileiro não obedece a ninguém, senão a seus impulsos imediatos. Dirigir dá prazer e dá status junto às mulheres? Então, quero meu carrão. Um carrão com mulher dentro implica demonstração de posse e isto só se consegue, na visão dos medíocres, indo-se a uma boate e gastando dinheiro em bebida à vontade. Assim, sim, o machismo brasileiro está comprovado junto às fêmeas brasileiras. Elas lhes caem nos braços prontas para lhes servir seus corpos em camas de motéis apenas porque podem beber à granel e possuem carrões. Uma fantasia idiota até não poder mais. Mas será assim mesmo?


Os acidentes automobilísticos são causados em sua maioria por indivíduos com pouca educação Cívica, Ética e Moral, mas com bastante dinheiro que, ou foi ganhado por herança, ou é auferido através de mesadas substanciais de pais tão ou mais irresponsáveis que sua prole, ou, então, são praticantes de esportes que lhes trouxeram fama e dinheiro à vontade. Fora estes, há ainda os acidentes causados por ladrões ou imbecilizados que se apossam dos carros dos outros para transformá-los em armas letais, como aconteceu recentemente em São Paulo, com uma médica. Ela estava em seu plantão trabalhando duro, enquanto seu automóvel era emprestado a dois imbecis pelo manobrista de um estacionamento. Resultado: morte.
Vejam o que restou dos ocupantes de um automóvel que bateu a 160 km/h. Não é traumatizante?
Vejam o que restou dos ocupantes de um automóvel que bateu a 160 km/h. Não é traumatizante?
Reclamamos, todos nós, das autoridades. No entanto, é preciso que nos miremos no Espelho Mágico de nossas consciências. Não é possível que acreditemos que tudo compete às autoridades competentes. Nós temos de fazer nossa parte para que o país e o mundo em que vivemos seja realmente bom. Aqui, no Brasil, isto não acontece. Quando jovem e morando no Rio de Janeiro também fui um tremendo imbecil imprudente do trânsito. Uma vez, com minha mulher grávida de seis meses, desci a perigosíssima estrada de Petrópolis em um fusca a 120 km/hora, perseguindo um fuscão que me tinha dado uma fechada. Até hoje não sei como não morremos todos. Lembranças esparsas me vêm à recordação de eu fazendo curva em duas rodas e rindo feito um idiota, enquanto os passageiros se agarravam como podiam dentro do carro. Não sei quantas vezes saltei do carro e desci o braço em outro imbecil que, como eu, costurava perigosamente no trânsito e terminava por me dar uma fechada arriscada. Por duas vezes encarei um revólver nas mãos do outro alucinado e fomos os dois parar na delegacia, ele  todo quebrado e eu com a roupa em frangalhos. Como um alucinado eu não dava passagem a quem estivesse dirigindo ao lado e desse seta pedindo passagem para mudar de faixa ou entrar em alguma rua lateral. Xingava feito um doido e ao final do percurso estava exausto, irritado, descabelado e tremendamente sensível a qualquer provocação. Aí, apelava para a cervejinha geladinha. O álcool me dava a ilusória sensação de calma e relaxamento. Um cigarrinho vinha complementar aquela ilusão venenosa. Então, se devia retornar à casa, vinha eufórico e corria sem me dar conta de que quem estava atrás da direção não era mais eu, mas o produto do álcool e do cigarro que trazia preso entre os dedos da mão na direção. Um certo dia, contudo, sozinho, pensando no meu comportamento violento, resolvi que tinha de  parar com aquela paranóia. E passei a buscar os motivos de eu ser um perigo constante no trânsito. E esta procura, eu sabia, tinha de começar por mim, não pelos outros. Era em mim que estava o perigo. Então, eu tinha que ir buscar suas raízes dentro de meu ser mesmo.
Prédio da Embratel, na Av. Presidente Vargas, 1012, Rio de Janeiro. Aqui vivi meu purgatório na terra por 23 anos.
Prédio da Embratel, na Av. Presidente Vargas, 1012, Rio de Janeiro. Aqui vivi meu purgatório na terra por 23 anos.
Uma das razões que me levavam a ser um desesperado ao volante era o fato de ter que marcar ponto na empresa em que trabalhava. Enquanto chefes e empregados de Nível Superior eram dispensados desta obrigação, os demais se viam acossados por eles. Justamente pelos que, por não serem obrigados a marcar ponto, chegavam ao trabalho invariavelmente de hora e meia a duas horas depois das oito. Tentei o autocontrole e foi em vão. Eu já estava condicionado à violência no trânsito. Então, estudei os pedais do automóvel e terminei por mandar fazer um calço que coloquei debaixo do pedal do acelerador. Ele impedia que eu fosse além de 50 km/h. Aí, foi aquele desespero. Ver outros alucinados passar costurando o trânsito, avançando sinal, subindo na calçada para driblar um engarrafamento e não poder fazer a mesma coisa porque meu acelerador estava calçado causava-me uma agonia que não  tenho palavras para descrever. Mas aguentei a briga comigo mesmo. Não retirei o calço de modo algum, nem mesmo nos finais de semana. Mas confesso a vocês que a luta foi titânica. Cheguei a odiar meu fusca. Mas como sempre faço quando pego um defeito em mim, não mais larguei do pé daquele. Como um médico legista, fui abrindo o impulso assassino pedaço a pedaço para descobrir onde se escondiam os motivos que me disparavam a agressividade suicida-assassina. Eles eram muitos, mas encontrei a primeira razão em uma causa social: minha raiva contra os chefes que tinha na EMBRATEL, os quais me detestavam porque eu era certinho demais, empregado demais, defensor demais da empresa e não aceitava participar das tramóias, das roubalheiras e de outros comportamentos lesivos à Empresa e, até mesmo, à dignidade humana. Eles tiravam de mim toda e qualquer oportunidade de promoção ou de reclassificação em retaliação pelo meu comportamento rígido e altamente frustrante para seus propósitos, embora me sobrecarregassem de  trabalhos que não eram de competência do cargo que eu tinha. E concluí que quando dirigia não era eu atrás da direção, mas o ódio deles que, em mim, levava-me a ser um suicida-assassino em potencial. No motorista que devia ser eu, estava o produto da raiva vingativa deles. Então, repentinamente, esfriei o impulso mortal. Tirei de dentro de mim o ódio deles contra o empregado que eu era. Esvaziou-se o impulso matinal que encontrava estímulo reforçador no trânsito louco do Rio de Janeiro. Chegava atrasado e não me incomodava mais com isto. E respondia assertivamente aos que me censuravam pelo atraso, dizendo: "Chego atrasado e tenho razões para isto. E pago à empresa pelo meu atraso, portanto, estou quites com ela. Mas e você? Você paga pelas horas que rouba ao trabalho?"
Quando a Morte colhe a vida do motorista, geralmente ele não é humano, mas um Lobisomem, fruto das frustrações da vida.
Quando a Morte colhe a vida do motorista, geralmente ele não é humano, mas um Lobisomem, fruto das frustrações da vida.
Não sei quantos motoristas brasileiros da atualidade sofrem daquele mesmo trauma trabalhista que eu sofri. Claro que os estímulos são diferentes na aparência e nos processos: empresariais, maritais, domésticos, sociais quaisquer, mas o resultado é sempre o mesmo: a raiva, o rancor ou o ódio de um ou de uns impulsionando a vítima para o suicídio-assassinato. Quando somos afrontados, insultados, humilhados, espoliados de nossos direitos, introjetamos um ódio mortal que não é nosso; que foi gestado fora, mas do qual não podemos fugir; não podemos escapar, se contra ele não estamos adredemente preparados pela Educação Cívica e Familiar. Então, conforme ensina a Psicologia, se temos medo do lobisomem a melhor defesa é nos tornarmos  também lobisomem, pois assim não mais teremos de temê-lo. E é como lobisomem que a morte nos encontra, quando batemos o carro a uma velocidade suicida.
O INSS está com razão, quando decide não mais sustentar os causadores de acidentes de  trânsito. Socialmente e Economicamente o Instituto está coberto de razão. Mas é preciso considerar que nenhuma pessoa, em sã consciência, coloca-se atrás de uma direção com a intenção de morrer matando. Todos queremos o céu, mas ninguém quer morrer para ir para lá, diz o ditado popular. E é verdade. O motorista não foge a esta Lei. As causas que impulsionam as pessoas a morrer matando são complexas e têm raízes profundas no modus vivendi que adotamos ou que somos forçados a adotar no estilo social de vida em que estamos inseridos. E se estudamos profundamente as raízes destas razões, vamos chegar ao tronco principal: a família. No fundo, são os pais os responsáveis pelos crimes de seus filhos. Os pais que, por razões infindas, se vêem na obrigação de se distanciar da prole no momento crucial de sua Educação Familiar. Ao crescerem com este vazio em sua Identidade Individual, a pessoa social daí resultante é aleijada, fraca, e pode cair facilmente nas armadilhas que o interagir odioso do viver social lhes arma. Não são nem os políticos, nem os "polititicas" os principais responsáveis por esta faceta amarga da vida social humana, mas sim os pais, a família desestruturada. Os ricos abandonam seus filhos porque se voltam para as futilidades que lhes parecem indispensáveis, ou para a corrida desesperada do ganho sem limites. Os pobres abandonam seus filhos porque se vêem acossados pela fome e pela necessidade instintiva de lutar por um patamar mínimo de sobrevivência.
O que fazer?

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