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terça-feira, 22 de março de 2011

BOOLING. ASSUNTO DA ESCOLA OU DA FAMÍLIA?

Era mesmo necessário chegar a tanto?
Tenho visto na TV e lido em revistas, jornais e livros, centenas de educadores falando e falando sobre o tal booling. Fiquei pensando em quando eu era um moleque de 13 anos, em Teresina. Era 1953 e eu estudava no melhor colégio da cidade, o Colégio Diocesano. Dirigido por padres, ali a lei era a da palmatória. Bobeou e as palmas das mãos pegavam fogo debaixo dos famosos 12 bolos de palmatória. O mínimo que o aluno em erro pegava como pena. E os padres adoravam aplicar bolos de palmatória. Nas famosas sabatinas - que ocorriam invariavelmente aos sábados - matemática, português e latim eram as matérias que mais nos premiavam com os famosos e dolorosos bolos de palmatória. Creio que, hoje, aquele procedimento educativo medieval seria designado de "booling dos educadores". Ou será que não? Não sei. Com a palavra os pedagogos e os "peidagogos" como os chamava pejorativamente o Coronel Carlos Alberto, na EMBRATEL.

Bom, mas voltando a Teresina, mesmo sob o severo regime da palmatória e do castigo do caroço de milho, quando o aluno era colocado de joelhos sobre caroços de milho secos, ao meio-dia, sob um sol de rachar, obrigado a recitar um rosário inteirinho sem direito a tomar água, havia violência entre os alunos. Eu era um frouxo de marca maior. Tremia de medo da palmatória e quase enchia as calças só de pensar em ficar sob o sol quente. E fiquei por três vezes. Um inferno, gente. Padre, quando resolve ser sádico, nem o Diabo se iguala a ele. Pois bem, havia um menino muito mais troncudo que eu - sempre fui magrela, raquítico - implicava com um meu amigo muito querido - Augusto Falcão Lopes, que, pelo que sei, veio a se tornar juiz de direito naquela cidade. O Augusto, ainda que muito mais forte que eu, não era de briga e vivia levando cocorotes dolorosos do atentado de quem não recordo o nome. Um dia, revoltado com o triste espetáculo, reclamei com o garoto malvado. E aí ele se voltou contra mim. Passei a ser seu sparring predileto. Aquilo me dava uma raiva demoníaca, mas minha frouxidão era sempre maior que ela, assim, eu apanhava e aguentava o choro a duras penas. Até que um dia, estávamos - Augusto e eu - afastado do pátio de recreio que era muito grande. Foramos nos esconder debaixo de um frondoso pé de tamarindo, próximo à pequena piscina do colégio, do outro lado do terreno do estabelecimento. Pois o infeliz carrasco nos descobriu e correu para nós. O escolhido fui eu, claro. Ele me cobriu de cocorotes e, não satisfeito, passou a me dar socos no rosto. Apanhei até não mais aguentar e ninguém nos socorria. Até que um soco mais violento me jogou no chão. Perto de minha mão havia um pedaço de galho do tamarindeiro. Apoderei-me dele, chorando muito, mas inchado de ódio, e quando o infeliz avançou para me chutar atingi-lhe a canela com o pedaço de pau. Ele urrou de dor, saltitando sobre uma perna só. Eu fiquei de pé e fora de mim passei a bater de pau no desgraçado. Bati e bati e bati sem dó nem piedade. Eu via o sangue espirrando do nariz do garoto. Vi seus dentes aureolados pelo sangue da boca atingida por aquela arma improvisada, mas quanto mais sangue eu via, mas vontade eu tinha de bater. E o teria matado a pauladas não fosse a intervenção do Padre José Luis, o maior carrasco do colégio. Fiquei de castigo sob o sol quente, de joelhos sobre caroços de milho secos pela terceira e última vez. Rezei em voz alta, bem alta, quase gritada, todo o rosário e mais um de contrapeso. A raiva não me deixou sentir a agrura do castigo. A partir daquele dia eu me tornei a praga do colégio Diocesano. Meu pai, que era soldado da PM de Teresina, cujo quartel era próximo do colégio, foi chamado várias vezes à Diretoria. Mas quando soube do que tinha acontecido - e já desconfiava, porque vez que outra eu chegava a casa todo marcado - disse ameaçadoramente: "Meu filho não é brigão. Se reagiu é porque o outro mereceu. Não vou puni-lo e não aceito que vocês o façam. Se souber que andam castigando o Orisval porque ele reagiu à violência de outro menino eu venho aqui e quem vai bater sou eu. E acreditem, eu bato pra valer!". E meu pai batia mesmo. Era uma praga quando se enfurecia. Os violentos do colégio se encolheram. Não sei se devido à fama que papai tinha na cidade - ele, quando jovem, era um tremendo arruaceiro e deixou histórias fabulosas pelo sertão piauiense - ou se devido à fama que eu passei a angariar entre as turmas. Qualquer fracote ameaçado por um valentão vinha-me pedir socorro. E só por isto o valentão se encolhia. Depois, quando meu pai e minha mãe se separaram, no ano seguinte, fui estudar no pior colégio de Teresina - o Liceu Piauiense. Era um verdadeiro SAM carioca. Ali, sim, havia violência à granel. E foi onde aprendi que lágrimas e súplicas não têm vez em terra de violência. Ou você se torna mais violento que os violentos, ou leva a breca. Professores se encolhem e fazem que não vêem o que acontece entre os pequenos monstros sem pais que os eduquem em casa.
Pois bem. Vejo isto, agora, através da TV, dos jornais e das revistas. Centenas de pedagogos e educadores falam de teorias e mais teorias educacionais. Mas eu, que fui um dos infelizes transformado em diabo-mirim graças aos de minha idade, sei que toda essa falação não vai levar a nada. Atualmente, a raiz do tal booling está na FAMÍLIA. Não há pais. Não há respeito. Não há educação familiar. As moças parem filhos sem qualquer preparo para serem mães. Os rapazes fazem filhos tangidos pelas fantasias televisivas e pelo blá-blá-blá dos que apregoam o uso da tal camisinha, das quais ninguém gosta de se servir, pois diminuem sensivelmente o prazer do coito. As jovens são preparadas para concorrer em pé de igualdade com os homens na busca da inserção no Mercado de Trabalho. E se encontram presa na terrível armadilha: sejam o posto de troca de óleo dos machos de sua espécie e não lhes encham o saco com besteira de gravidez; sejam concorrentes acirradas com eles aos postos de comando e chefia nas empresas e vençam a qualquer custo. Esqueçam este negócio de mãe-de-família. Isto já era. Centenas, milhares delas se recusam terminantemente às "prendas domésticas" - e entre estas está minha filha, formada em Direto. Não sabe nem fritar um ovo e gosta que se baba das famosas baladas. Se não enveredou pelo caminho da prostituição e do vício às drogas no tempo de faculdade foi devido à rígida educação que lhe demos, minha mulher e eu. E ainda assim, fui obrigado a correr com dois de seus pretensos namorados - um deles quase foi morto por mim devido às suas insistências descaradas. Como meus filhos sabem que quando me torno violento ponho até o diabo pra correr, tratam de me obedecer. Não fosse a mão-de-ferro e não sei não... Eu os eduquei dentro de tatamis de artes marciais. São muito bons em defesa pessoal e sempre lhes disse o que ouvia de meu pai: Não quero que briguem. Fujam de situações perigosas. Mas se não puderem evitar, batam sem dó nem piedade. Não quero filhos quebrados em minha casa. Como dizia o avô de vocês: prefiro mandar flores para o outro do que chorar no buraco de vocês. Reajam de modo a desencorajar o valentinho e o resto, fica por minha conta". Talvez alguns de meus leitores torçam seus narizes para esta filosofia, mas graças a ela meus filhos estão formados e batalhando pela vida sem jamais se envolverem nem com a prostituição, nem com a corrupção de costumes, nem com as drogas. Nunca bati em nenhum deles, mas sabiam desde cedo que se violassem minhas regras o pau ia cantar pra valer. isto lhes punha freio. Além disto, os professores de artes marciais - que eu escolhia a dedo - também lhes ensinavam o repúdio à violência gratuita. Os dois conheceram os tatamis a partir dos 3 anos de idade. São pessoas que, onde chegam, cativam pela educação e pela disponibilidade para ajudar sempre. Mas não se deixam violentar de modo algum. Em qualquer terreno. Eu me orgulho deles e agradeço em meu coração a educação que recebi de meu pai. Reativa, sim. Violenta, não. Covarde, jamais.
Fruto da desídia dos pais... Ou não?
No entanto, hoje, creio que o Estado tem de intervir diretamente no núcleo familiar. Não é mais assunto de psicólogos e pedagogos, não. É assunto de polícia. Filho violento deve colocar seus pais em apuros legais. Pais que não sabem ou não querem assumir a dura responsabilidade de educar as feras que trazem para a vida, devem ir parar na cadeia sem apelação, sem disse-me-disse, sem advogado de porta-de-cadeia para complicar tudo. Vão presos, são condenados rapidamente e pronto. Cadeia brasileira é um terror! Não é, e creio que jamais será, um estabelecimento de reeducação social. Mas uma temporada ali dentro, mães desavidadas e pais desnaturados logo entram nos eixos. Ou entram, ou desandam de vez. Claro que a Lei deve assegurar-lhes o emprego, pois o castigo é para chamá-los à responsabilidade e, não, para jogá-los em apuros sociais. E quanto aos moleques, uma dúzia de bolos de palmatória por dia, toda vez que agirem pervertidamente, não fará mal algum. E de preferência em praça pública. Dói muito mais a vergonha da execração pública do que os bolos recebidos nas mãos. Isto eu garanto por experiência própria. Prego a violência? Você acha isto? Pois bem, responda: não é violência estatal deixar que os moleques se transformem em marginais irremediáveis, cruéis, assassinos por qualquer dá-cá-o-pau, e terminem fuzilados pela polícia nalgum beco escuro da cidade violenta em que vivem? E não é violência estatal aprovar um ECA - Estatudo da Criança e do Adolescente que manieta a ação corretiva dos pais? E não é falsidade social deixar que "peidagogos" e viciados em drogas gritem contra toda e qualquer "repressão educacional" que pode evitar mais um cadáver estirado na rua abatido por balas da polícia? Ou será que a sociedade tem de ser preparada para ver aquele cadáver como com menos valor que o cadáver de um bicho? Será que o correto é deixar que as famílias vejam apáticas o monte de cadáveres de pessoas abatidas ou pelo crime organizado ou por policiais assassinos - porque receberam treinamento para isto na corporação - sem perceberem que têm estreita relação com aquela violência estatal ou marginal? Isto sim, eu acho que é violência, senhores e senhoras. Violência acobertada sob a grita de indivíduos ou desinformados da realidade urbana, ou marginalizados da realidade social, ou que buscam aparecer na mídia a qualquer custo, ou que procuram conquistar votos, ou...
Bom, o booling está aí e sempre esteve. Só que, agora, devido ao que citei e a muito mais erros dos poderes constituídos, está mais forte e mais descarado. Tem de haver enfrentamento doloroso. O melhor teria sido não deixar que a situação chegasse a tal ponto, mas já que chegou, o remédio tem de ser amargo para os principais responsáveis por isto: OS PAIS.

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