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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

PSICOSE - FIQUE POR DENTRO


Se você anda sonhando com ele, pode
não ser loucura, não...

É sempre bom a gente saber alguma coisa sobre a Medicina, principalmente quando se trata daquelas do terreno pantanoso e nada firme da Psiquiatria - que influi diretamente na Psicanálise e na Psicologia Clínica. Talvez você esteja em tratamento com algum profissional destas áreas e sempre é bom conhecer o que eles andam pensando a seu respeito. Então, vamos lá? 
Definição de Psicose: “Estado anormal de funcionamento psíquico”. Mas o que é normalidade? Pode-se supor que é normal tudo o que está de conformidade com o proceder da maioria e que é aceito por ela. Bom, poder, pode. No entanto, se alguém se encontra sob um viaduto de qualquer cidade grande, onde centenas de drogadictos e prostituídos consomem crack naturalmente e amplamente, pode-se supor que o consumo de crack é normal? Para aquele grupo, sim. Em relação a nós, eles são maioria e aquele comportamento não somente é aceito como incentivado por todos. Então, ali, o consumo de crack é normal e não consumi-lo é que é anormal. Naquele estrato social social, o conceito de normalidade tem sentido oposto àquele que possui no estrato social mais refinado.
A tristeza e a alegria assemelham-se à depressão e à mania. A tristeza é associada, do ponto de vista da psicopatologia, ao estado depressivo, que não caracteriza uma verdadeira depressão. Já a alegria, por sua vez, é associada ao estado maníaco, mas diferindo por ser episódica, inopinada e ter uma fonte real de estimulação. Mesmo assim, tristeza e alegria são assemelhadas ao que é denominado, atualmente, de transtorno afetivo bipolar. A alternância entre estados de tristeza e estados de alegria ou, o que dá no mesmo, entre estados depressivos com estados maníacos, constitui a tônica da patologia chamada de transtorno afetivo bipolar. Bom, quem já não sofreu de surtos episódicos de tristeza e de alegria até mesmo durante um dia? Uma pessoa perde seu namorado(a) e fica triste; mas horas depois encontra-se com alguém a quem muito preza e com quem ficou anos sem se encontrar. Então, enche-se de alegria. Pode-se dizer, então, que ela apresenta um estado duvidoso de sua normalidade e é uma provável sofredora de transtorno afetivo bipolar? Este exemplo é simplista, mas todos já passamos por situações de vida em que nossa tristeza durou não umas horas, mas dias. A perda de alguém muito amado pode causar um profundo estado de tristeza que chega mesmo às raias da depressão. A pessoa perde o interesse por sair, por participar, por interagir com o que quer que seja. Prefere permanecer quieta, chorosa, arredia e até mesmo irritadiça. Alimenta-se pouco, mas se alimenta. Vê televisão e aqui e ali aceita juntar-se a um grupo, ainda que por pouco tempo. Não perde totalmente o vínculo com a realidade externa, embora esteja muito dominada pelas recordações do tempo vivido e perdido. Após um tempo – que varia de semanas a meses – eis que aquela pessoa sai daquele estado. Resolve participar de uma festa e a partir daí, entrega-se à alegria e à diversão, interagindo com todos como fazia antes do surto de tristeza de que foi acometida. Seu estado de euforia, de alegria, pode durar semanas também, até que surja algo que a leve de volta à experiência da tristeza. Todos vivemos nesta alternância. Então, todos somos transtornados bipolares? A Psiquiatria ainda não tem uma definição clara para este transtorno (outrora chamado de maníaco-depressivo). Por isto, os médicos têm grande dificuldade em caracterizar esta patologia. Aceita-se a divisão do transtorno afetivo bipolar em dois tipos: o tipo I e o tipo II. O tipo I é a forma clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania alternados com os depressivos. As fases maníacas não precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as depressivas por maníacas. Na prática, observa-se muito mais uma tendência dos pacientes a apresentarem várias crises de um tipo e poucas do outro; há pacientes bipolares que nunca apresentaram fases depressivas e há deprimidos que só tiveram uma fase maníaca enquanto as depressivas foram numerosas. O tipo II caracteriza-se por não apresentar episódios de mania, mas de hipomania com depressão. Isto é, ou não, confuso?
A Essência da Psicose
Tendemos a acreditar no que alguém que conhecemos nos relata. Tomamos seu relato, geralmente, como verdadeiro. Entretanto, se surgem indícios de que a história que nos contou é falsa, contém inverdades, passamos a desconfiar de que ou nosso amigo se enganou, ou interpretou o que viu de modo errado ou faccioso ou nos relatou uma fantasia. Então, o processo é: primeiro um fato é admitido como verdadeiro; depois, novos dados ligados ao fato são adquiridos e contêm contradições; finalmente confrontamos o fato com os novos dados e verificamos discordâncias em graus variados, que nos pode levar a desacreditar de nosso amigo.
Vemos que do raciocínio lógico surge um questionamento e esta é a forma comum de se conduzir ou trabalhar com idéias ou informações. É assim que uma pessoa naturalmente estabelece seu contato com a realidade. Ela confronta dados e apura fatos. Mas quando esta função mental não pode mais ser executada com coerência e lógica estamos diante de um estado psicótico. Então, o aspecto central da psicose é a perda, pelo sujeito, da capacidade de estabelecer contato com a realidade. Note que o vocábulo psicose significa, etimologicamente, “o que está cheio de psi”. Neste caso, psi toma o significado de fantasia, de imaginação sem fundamento real. O estado psicótico leva a pessoa a modificar seus planos de vida, a alterar suas idéias a respeito de outros e de coisas e a se relacionar com fenômenos (pessoas e coisas) inexistentes na realidade objetiva. Por exemplo: um indivíduo psicótico afirma categoricamente que o motorista do carro estacionado diante de seu prédio está com a intenção de matá-lo e que, naquele momento, monitora tudo o que ele pensa ou diz para armar seu plano assassino. Mesmo que se leve o psicótico até o carro e lhe mostre que ele está vazio; que lá dentro não há ninguém, ele vai continuar afirmando que há ali um indivíduo disposto a assassiná-lo. A evidência concreta que contradiz sua fantasia não tem efeito em sua Mente. Você deve ter feito o sinal da cruz e dito: “Ainda bem que não sou psicótico”. Será que não? Todos nós temos surtos psicóticos durante nossa vida, durante nosso dia-a-dia. Quer ver? Você pode estar enfrentando uma grande dificuldade de relacionamento com alguém a quem julga perigoso. Então, de dentro do ônibus em que se encontra, olha para um carro estacionado e que tem vidros fumê, que não permitem que se veja seu interior. E lhe passa pela cabeça o pensamento: “Ali dentro bem pode estar Fulano de Tal, armado e pronto para me dar um tiro...”. Neste exato momento, você teve um surto psicótico. Você esteve psicótico. E este momento de psicose pode alongar-se em função de sua fantasia prosseguir criando cenas e costurando um drama a partir de seu “assassinato” pelo fulano temido. Você, durante aquele tempo, está psicótico. Então, não agradeça aos céus por não ser um psicótico. Você sempre pode ficar psicótico e durante aquele tempo ser psicótico. Quando ficamos psicóticos perdemos o contato com a realidade. Ficamos cheios de “psi”, logo, entramos em psicose. A diferença entre você ficar psicótico e uma pessoa que está psicótica é que você entra em psicose, mas não permanece nela e a coitada daquela pessoa não consegue mais sair deste estado.
Qual é o Principal Sintoma da Psicose?
A resposta é: o delírio. Delírio é toda convicção inabalável, incompreensível e absurda que uma pessoa psicótica mantém a respeito de suas idéias e crenças literalmente destrambelhadas. O delírio psicótico pode surgir a partir de uma recordação tensionante para a qual o psicótico empresta uma nova interpretação e da lembrança da qual foge com toda a força de suas funções mentais. Aquela recordação pode ser suscitada subliminarmente a partir de um gesto ou de uma palavra que alguém pronunciou com determinada entonação, percebidos, também subliminarmente, como ameaçadores. Assim, ao ver alguém segurar a ponta do queixo meditativamente, o psicótico pode achar que aquela pessoa a está julgando negativamente. Por exemplo: ela pode achar que aquela pessoa a está julgando homossexual e se enfurecer por isto. No íntimo, talvez o psicótico tema sua própria homossexualidade latente. Mas atenção: não compete ao leigo constatar um delírio. Mesmo os clínicos gerais não treinados pela Psiquiatria ou pela Psicanálise não estão em condições de constatar que alguém está sofrendo de um delírio de cunho psicótico. Portanto, não vá sair por aí achando que todas as pessoas à sua volta estão sofrendo de delírios, está bem?

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